Autor: Everton do N. Siqueira |
Pilatos podia libertar Jesus mas não queria assumir essa responsabilidade e tentou, por diversas vezes, fazer algo que aqui no Brasil chamamos de "jeitinho brasileiro", ou seja, tentou resolver as coisas "na paz", ficando neutro ao episódio e agradando ambas as partes: primeiro enviou-o a Herodes, achando que este iria tomar uma atitude, mas logo Herodes "passou o bastão" novamente a Pilatos. O governador questionou o povo judeu, tentando fazê-los mudar de idéia, alegando não encontrar crime algum em Jesus (Conf. Lc 23,4. 14-15), também tentou libertá-lo, colocando-o lado a lado com um grande bandido da época (Conf Mt 27,17) achando que os judeus libertariam Jesus e condenariam Barrabás. Por fim, acabou lavando as mãos (Mt 27, 24) e deixou Cristo à mercê da vontade do povo judeu.
Procurei nas Sagradas Escrituras o personagem que melhor representasse a atual crise da Igreja, em especial da Igreja no Brasil e encontrei em Pôncio Pilatos o exemplo perfeito.
Muitos cristãos parecem seguir e imitar não Aquele que é o Caminho a Verdade e a Vida (Jo 14,6), mas aquele que, para agradar a multidão (Mc 15,15) teve a atitude patética de lavar as mãos (Mt 27,24), achando que com isso estaria, de fato, inocente do sangue do Homem.
A sentença de Pilatos foi proferida sob a pressão dos sacerdotes e da multidão, o pretor romano queria ficar inerte à situação (2), "sob a pressão pública Pilatos encarna então atitudes que parecem dominar nos nossos dias: a indiferença, o desinteresse, a conveniência pessoal. Para se viver serenamente, e por vantagem própria, não se hesita em esmagar a verdade e a justiça" (3).
Quantas vezes a sociedade se cala perante abusos que ameaçam nossa raiz cristã? Quantas vezes podemos ajudar de forma mais sólida alguém que sofre as consequências de uma vida no pecado e nos calamos? Quantas vezes, conscientemente, agimos contrariando nossa própria fé, lavando as mãos da aliança que selamos no batismo? Quantas e quantas vezes temos atitudes semelhantes à de Pilatos, lavamos nossas mãos e largamos a responsabilidade para o próximo?
Pilatos, sendo a autoridade civil responsável, poderia ter solto Jesus e no seu íntimo desejava vê-lo livre (Conf. Lc 23,20) mas, diante da pressão e do medo das represálias, tomou a atitude que hoje parece imperar, se acovardou diante das ameaças e deixou a responsabilidade a outrem.
Nossa Terra de Santa Cruz, colonizada por cristãos e catequisada pelos Jesuítas, hoje corre sérios riscos, diante de ameaças jamais vistas como a ditadura do politicamente correto, o avanço dos movimentos homossexuais, das marchas abortistas e das seitas relativistas e o que tem sido feito para tentar frear ou pelo menos amenizar esse perigo? Padres não falam de moral em suas homilias, bispos se calam diante de iniciativas desumanas como leis e projetos que tramitam no Congresso e os leigos, em sua maioria, continuam a ser cristãos no País das Maravilhas, bastando ir à Missa aos Domingos e viver sua vida "à deriva", como se nada acontecesse à sua volta.
"Para muitos, o cristianismo é uma atividade dominical, que às segundas-feiras, não mais lhes interessam."(Martin Luther King)
Hoje, vemos católicos vivendo um cristianismo ilusório, esquecendo dos grandes mártires do passado. Para a grande maioria, basta dizer da boca pra fora "sou cristão", rezar algumas orações, comprar uma camiseta temática com estampa religiosa e participar de algumas atividades paroquiais que já está garantindo o seu"Certificado de Bom Cristão".
O pecado por omissão
"Confesso a Deus Pai Todo Poderoso, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e OMISSÕES..."
A fórmula acima, retirada do Confiteor, parece ser ignorada em partes, pois os pecados por omissão, frutos da preguiça e do egoísmo, parecem passar longe dos confessionários. Na grande maioria das vezes o "espírito de Pilatos" fala mais alto quase de forma automática,sempre é o próximo que tem a obrigação de solucionar os problemas e buscar melhorias na sociedade.
Diante deste "mundo da omissão", cabe aos católicos conscientes, antes de querer jogar a responsabilidade a outrem, fazer a sua parte e buscar amenizar ou impedir que o próximo peque ou falhe em suas obrigações.
Infelizmente, a sociedade "politicamente correta" tenta acabar com a caridade e com o amor entre as pessoas, incentivando que as mesmas vivam de forma egoísta, deixando à mercê dos governantes todas as formas de educação, cultura e caridade. Um exemplo dessa caricatura cívica é facilmente percebida quando as pessoas dizem para "cada um cuidar da sua vida" na mesma medida em que seguem todas as leis, na forma como o "governo quer cuidar da vida delas".
"As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interacções, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem." (4)
Cabe ao cristão, antes de temer estar se "intrometendo na vida alheia", corrigir e alertar ao próximo sobre os erros que o circulam, de forma caridosa, fraterna e sabendo distinguir o pecado e o pecador. A não ajuda ao próximo que está precisando, quando sabemos que podemos ajudar, caracteriza-se, na maioria das vezes, um reflexo da imagem covarde de Pôncio Pìlatos.
"Senhor Jesus Cristo, peço-lhe perdão por todas as vezes em que podia ajudar e não ajudei, podia vigiar e não vigiei. Peço lhe perdão por não ter orado como devia, por não interceder como devia, não comandar como devia e por não usar da autoridade como devia. Peço-lhe perdão por me calar quando devia falar e por falar quando devia me calar. Imploro sua infinita misericórdia por todas as minhas omissões. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém."
Referências
(1) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre Bento XVI, Sexta-Feira Santa, 2007
(2) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre João Paulo II, Sexta-Feira Santa, 2003
(3) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre Bento XVI, Sexta-Feira Santa, 2007
(4) Carta Encíclica Spe Salvi
(1) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre Bento XVI, Sexta-Feira Santa, 2007
(2) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre João Paulo II, Sexta-Feira Santa, 2003
(3) Via Sacra no Coliseu, presidida pelo Santo Padre Bento XVI, Sexta-Feira Santa, 2007
(4) Carta Encíclica Spe Salvi
Muito obrigado por compartilhar o texto.
ResponderExcluirGostei do blog, já estou seguindo, pois possui ótimos conteúdos.
olá everton fiquei gratamente surpreso em ver o autor do artigo por aqui.acompanho sepre seus comentarios nos foruns do orkut ou no seu blog, são muito bons,esse nosso blog é novo e como temos pouco tempo pra fazer artigos normalmente compartilhamos artigos de outros blogs,mas sempre tomando o cuidado de indicar o autor ou de onde ele foi extraido.um grande abraço e Shalom!!!
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