terça-feira, 22 de março de 2011

Quantos eu te amo ??

amor de mãe é incondicional.Porque não depende daquilo que o filho tenha para oferecer. Não depende do que o filho possa vir a se tornar no futuro. Não depende dos dotes estéticos que o filho possua. Não depende de nada. Amor de mãe é incondicional porque simplesmente ama.
E todo filho é digno de ser amado. Não importam as limitações que ele porventura tenha. Não importam as deficiências que ele apresente. Não importa o tempo durante o qual ele esteja entre nós. Não existem vidas mais dignas do que outras. Porque toda vida é inviolável.
Muito já foi falado sobre este assunto. Talvez seja verdade que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam. Eis, portanto, os exemplos. Em apenas três minutos. Quem pode dizer que não vale a pena…?
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Que a Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas e dos nascituros, seja em nosso favor. Que Ela, que é Virgem e Mãe, nos ensine o valor de uma vida. Que Ela nos faça entender que os mais fracos devem ser protegidos, e não eliminados. Que Ela interceda pelo Brasil.
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fonte:Deus lo Vult!

sábado, 19 de março de 2011

Campanha da Fraternidade "Fraternidade e Vida no Planeta"

Na luta pelo meio-ambiente somos colocados diante de uma escolha: cultuar a Natureza como uma divindade e promover o neo-paganismo ou colocar-nos diante do Criador numa atitude de humilde obediência ao seu desígnio e ser verdadeiros cristãos.
É com esta atitude de servo que o homem é chamado a dominar sobre a criação (Gen 1, 28). Ao se fazer homem, Deus concedeu uma maior dignidade ao ser humano. Por isto, o Papa Bento XVI nos recorda que existe uma ecologia do homem.
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“Deve-se proteger também o homem contra a destruição de si mesmo. É necessário que haja algo como uma ecologia do homem, entendida no sentido justo. [...] O homem pretende fazer-se sozinho e dispor sempre e exclusivamente sozinho o que lhe diz respeito. Mas desta forma vive contra a verdade, vive contra o Espírito criador” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 22/12/2008).
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“A arrogância do homem que vive como se Deus não existisse, leva a explorar e deturpar a natureza, não a reconhecendo como uma obra da Palavra criadora. [...] Acolher a Palavra de Deus atestada na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja gera um novo modo de ver as coisas, promovendo uma ecologia autêntica, que tem a sua raiz mais profunda na obediência da fé, e desenvolvendo una renovada sensibilidade teológica sobre a bondade de todas as coisas, criadas em Cristo” (Bento XVI, Verbum Domini, 108)
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Fonte:http://padrepauloricardo.org/blog/parresia-17032011-campanha-da-fraternidade-fraternidade-e-vida-no-planeta/

sexta-feira, 18 de março de 2011

A vocação do silêncio

Tudo que sabemos dele é que era um homem justo. No mais, silêncio. Assim é que as sagradas escrituras delineiam a figura de Iosseph Ben Iaakov ou, simplesmente, José, esposo de Maria.  

Neste dia 19 de março, a Igreja celebra este grande santo, que viveu em profusamente a vocação do silêncio, da escuta e da fé.

Os autores sagrados não colocam nenhuma palavra na boca de José. No entanto, a partir de uma Lectio Divina dos primeiros capítulos do Evangelho de São Mateus, contempalmos a vida de um homem que tinha uma intimidade profunda com Deus, que sabia ouvi-lo e que prontamente se dispunha a cumprir o mandato do Senhor. José obedecia porque tinha fé. Assim como Abraão, José teve fé e acolheu Maria e Jesus. Mais do que isso, assumiu plenamente a paternidade do menino e foi para este um escudo, um véu protetor. José cuidou do lar de Nazaré em todos os aspectos. Deu a Jesus proteção, amor, alimento, dignidade e, acima de tudo, a cultura judaica. Certamente foi José quem iniciou Jesus no conhecimento da Lei e dos Profetas, dos quais o Menino era o pleno cumprimento. 

Assim, neste dia de São José, pedimos a Deus, por intercessão deste baluarte da Igreja, que nos conceda a graça do silêncio e da fé obediente. Amém.

São José, rogai por nós!

quarta-feira, 16 de março de 2011

A Batina do pobre




Por Prof. Carlos Ramalhete
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Costumo dizer que a única coisa boa que a TV Globo já fez no Brasil foi não deixar as pessoas esquecerem que padre usa batina. Para a imensa maioria das pessoas, hoje em dia, padre de batina é coisa que só se vê em novela. É uma pena.
Além das questões legais (o Código de direito canônico manda usar, sendo contudo legalmente permitida no Brasil a sua substituição pelo "clergyman") e espirituais (a batina é um sacramental), há uma questão social e psicológica que me parece estar sendo deixada de lado por muita gente boa.
É simples: a batina é um uniforme. A diferença maior entre o pobre e o rico, entre quem serve e quem é servido, é que o pobre, geralmente, trabalha de uniforme. Seja o faxineiro ou o trocador do ônibus, o porteiro ou a mocinha que serve atrás do balcão, é a impossibilidade de escolha do vestuário que designa quem está ali para servir.
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É até curioso perceber como é geralmente fácil descobrir o dono de uma lanchonete ou padaria: enquanto os empregados estão todos de uniforme, frequentemente com direito até a touquinhas tampando os cabelos, o dono é o único sujeito atrás do balcão que não usa uniforme. É como um delegado de polícia entre soldados da PM, como um doutor que passa altaneiro entre os faxineiros que, anônimos, varrem os corredores.
O objetivo primeiro do uniforme é justamente este: a negação da
personalidade. É por isso que os "bacanas" fogem do uniforme como o Diabo da cruz, mas o impõem aos menos afortunados. O faxineiro é o faxineiro; o "bacana" é o Doutor Fulano. Doutor Fulano usa gravatas vistosas, terno que brilha, sapatos engraxados. O faxineiro é invisível, não tem nome, não tem brilho, não tem nada que não o seu humilde serviço, que só é percebido quando não é feito. Ele é faxineiro.
Um pesquisador da USP fez uma curiosa experiência, que lhe valeu um livro ("Homens invisíveis – Relatos de uma humilhação social", de Fernando Braga da Costa, ISBN 8525038911): uniu-se aos faxineiros da própria universidade, onde estudava e tinha amigos e colegas aos magotes. Ele simplesmente sumiu. Desapareceu atrás do uniforme: pessoas que sempre o cumprimentavam não mais o viam, amigos passavam por ele sem perceberem sua existência… De homem, de personalidade que faz escolhas (inclusive de vestuário), ele passou a ser um ente categorial: um faxineiro sem nome, invisível como os meios-fios que lava e as latas de lixo que esvazia.
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O mesmo acontece com a mocinha atrás do balcão, com o motorista do ônibus ("aquele ônibus me fechou!"), com, em suma, todos os pobres que a sociedade não quer ver afirmados como pessoas.
O padre que usa batina afirma-se, assim, categorial: ele não é o Fulano, mas é um padre, é alguém que está ao serviço dos outros. A batina é um componente da pobreza evangélica, que é negada quando o padre se dá ao luxo de escolher roupa, parecer "bacana", de poder escolher – ao contrário do faxineiro ou da moça atrás do balcão – se vai ou não servir.
O padre de roupa social parece um "doutor", alguém que é percebido como uma pessoa que faz escolhas, que atende quem quer atender, que ou bem não está "no serviço" ou bem é importante o suficiente para definir os termos do seu serviço, como o dono da padaria. Para os mais pobres, isso é algo que faz do padre uma figura psicologicamente distante. Quem é faxineiro, quem é trocador, quem trabalha de uniforme reconhece sempre que por trás do uniforme há um ser humano. Mas também reconhece no uniforme o sinal do serviço, o sinal da disponibilidade para atender. Quem é "bacana", quem trabalha sem uniforme, vê do mesmo modo no uniforme do padre – a batina – um sinal de disponibilidade.
A disponibilidade do padre é e deve ser absoluta, por não ser, como é o caso dos outros trabalhadores de uniforme, algo limitado a uma dada situação. O trocador do ônibus, fora do veículo, não é trocador: é apenas trabalhador, identificado como tal pelo seu uniforme. Mas o padre nunca está "fora do serviço", porque não serve à companhia de ônibus, mas a Deus e, por Ele e n’Ele, aos homens.
Passar desapercebido, como passa o faxineiro quando vestido com suas roupas de folga, não é para o padre uma opção. Ele deve estar disponível para o escarro do herege e para a confissão do fiel, porque não há folga no seu serviço..
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O mesmo, evidentemente, vale para o hábito religioso das freiras e
frades: se eles o usam, mostram estar "em serviço", mostram estar à disposição para quem precise de uma oração, para quem precise de ajuda. Chega a ser engraçado ouvir de alguns padres a justificativa furadíssima de que não usam batina porque querem se identificar com "o pobre"! Só se for com o pobre de folga… ou com o rico que alguns pobres sonham em ser.
Pobre usa uniforme quando trabalha. Quem o dispensa, ou melhor, quem a ele não é obrigado, é a madame – e o que há de freira fantasiada de madame! -, é o "doutor"- e o que há de padre com roupa social, entrando ou saindo de um carro, indistinguível, para todos os que estão em torno, de qualquer rico acumulando bens e negando serviço!
O uso do "clergyman", a meu ver, apresenta também este problema: é próximo demais de um terno, de uma roupa de quem, por sua posição social, pode se dar ao luxo – negado ao pobre – de negar seu serviço. Como todos sabem, o uso do "clergyman", originalmente, uma roupa usada por "pastores" protestantes, surgiu na Igreja como uma forma de apagar a identidade do sacerdote, tornando-o indistinguível dos protestantes em lugares onde padres corriam o risco de ser atacados na rua, tamanho o sentimento anti-católico.
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É por isso, por ser em cada país diferente a situação do clero, que a legislação canônica faculta às Conferências episcopais de cada país autorizar ou não o uso do "clergyman" em substituição à batina. Presume-se que a Conferência possa distinguir se é ou não necessário "esconder" o padre. No Brasil, é ridícula a idéia de que isso seja necessário, o que faz da permissão dada pela CNBB um abuso de um direito lícito. Em outras palavras: é permitido usar o "clergyman" no lugar da batina no Brasil, mas não existem as razões que autorizariam esta substituição, apenas o frio texto da lei.
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Cumpre mesmo observar que só reconhece no "clergyman" uma roupa de padre quem já é "de Igreja", quem já viu padres assim vestidos. A TV Globo, graças a Deus, manteve viva a percepção nas massas afastadas da Igreja de que padre usa batina: para quem não é "de Igreja", o "clergyman" indica que seu portador é um "pastor" protestante, não um padre.
Há ainda outra razão para o uso da batina, igualmente importante: a simbologia deste um uniforme específico. Assim como a roupa do faxineiro o faz ser indiscutivelmente um faxineiro e a roupa do motorista faz com que ele não seja confundido com o atendente da lanchonete, a batina mostra que ali há um padre. O hábito não faz o monge, mas o identifica.
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Isto tem vários benefícios. Para o padre, há o benefício imediato de que sua condição será sempre reconhecida antes mesmo que abra a boca. Por exemplo, a mocinha que vê o rapaz bonito vestido de batina vai logo suspirar que é um "desperdício", sem achar que ele possa ser um namorado em potencial. Isto vai livrar o padre de algumas tentações mais perigosas que a média, e vai livrar a mocinha de um desapontamento sério. Afinal, a moça honesta não tenta seduzir o padre que ela sabe ser padre, mas pode tentar e conseguir seduzir o padre que ela não identificou como tal e que, por fraqueza, não desfez o malentendido. A chance de um momento de fraqueza se transformar em uma relação desorganizada duradoura é muito menor para o padre cuja batina à vista afasta desde logo as moças honestas. Resta-lhe apenas lidar com as que querem um "troféu" sacrílego, mas estas dificilmente quereriam uma relação duradoura. São quedas de que é mais fácil se levantar.
Do mesmo modo, o reconhecimento do padre como tal faz com que ele seja chamado na rua quando há um acidente e alguém jaz moribundo, para ministrar-lhe os sacramentos, quando há uma crise espiritual em andamento, o que pode salvar uma alma e mesmo uma vida (conheço um padre que, reconhecido pela batina, foi chamado numa lanchonete e convenceu uma moça a não abortar), quando há, em suma, a necessidade do seu serviço.
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E, finalmente, o padre de batina, como a freira ou o frade de hábito, servem como "homens-sanduíche" (aquelas pessoas com placas enormes na frente e nas costas, anunciando a compra de ouro ou os serviços de uma lanchonete): eles anunciam que Deus não esqueceu de nós. A simples visão de um padre ou freira pode servir, e serve, para muita gente como um "recado" de que devem se emendar, devem procurar voltar à Fé. É uma presença da Igreja no mundo, mais forte que os sinos da Matriz ou que milhares de campanhas de propaganda. É um bem enorme prestado à sociedade, um lembrete de que há algo além da cobiça, da luxúria, do orgulho.
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Que Deus abençoe todos os padres e religiosos que andam pelo mundo sem medo de mostrar que, como qualquer outro pobre, estão em serviço. Um serviço, porém, que não acaba e que não tem folga: o serviço do Bem.

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre mocinhos e bandidos

Esta história eu faço questão de contar, só de raiva. Descobri-a hoje à tarde, no Twitter. Aconteceu em Cuiabá, sexta ou sábado que passou.
Uma família estava voltando para casa quando foi surpreendida por uma dupla de assaltantes armados. Fizeram a família de refém, e começaram a vasculhar a casa em busca de objetos valiosos. Trancaram a família no quarto, onde – por obra da Divina Providência – estava guardada a arma de um dos filhos, que era campeão regional de tiro. Ele a carregou e, quanto um dos ladrões entrou no quarto e apontou um revólver para a mãe do rapaz, este atirou nele e o matou. Atirou também no segundo meliante, que infelizmente conseguiu fugir mas logo depois foi capturado pela polícia.
Aí o Diário de Cuiabá pega e noticia este fato da seguinte maneira:
E assim, graças à fantástica magia das manchetes de jornais, a legítima defesa vira assassinato, um assaltante ao qual se ofereceu resistência transforma-se em adolescente assassinato e a vítima do assalto, que teve a coragem de reagir para proteger a sua família, é transformado em atirador assassino.
O absurdo era muito grande para passar incólume. A matéria foi removida do site. Ainda se encontra no cache do Google. Não sei se o responsável por ter colocado esta matéria criminosa no ar foi devidamente expulso do jornal, como seria justo. Sei que, até onde pude notar, o jornal não colocou nenhuma errata, nenhum pedido de desculpas, nenhuma nota indicando o seu erro, nada – simplesmente deu sumiço na matéria como se ela nunca tivesse existido. Também não sei se os responsáveis pela absurda prisão em flagrante do garoto que salvou a vida da sua família serão punidos como devem ser.
Sei, no entanto, que o garoto é um herói – a despeito das atitudes kafkianas das autoridades policiais e da imprensa. E sei que, graças a Deus, não sou o único a considerar os fatos desta maneira – basta olhar a página de comentários do Diário de Cuiabá onde a notícia originalmente estava. A despeito das tentativas “do alto” de inverter a realidade e transformar as coisas no seu contrário, o povo (ainda) tem o juízo no lugar. Graças a Deus.
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fonte:http://www.deuslovult.org/

A moda de mostrar o sutiã



 Autor: Julie Maria
 

O adjetivo “íntima” para indicar algumas peças do nosso guarda-roupa merece mais atenção. Se a moda sempre tenta trazer alguma “novidade” para vender seus lançamentos, existem alguns princípios “eternos” que nunca devem “sair de moda”, para quem põe a virtude da modéstia como prioridade na hora de escolher a roupa. Um desses princípios é este: a roupa íntima deve ficar totalmente velada (nem ela, nem sua marca devem aparecer).

Esse adjetivo para determinadas peças (atualmente sutiã e calcinha para as mulheres e cueca para os homens) indica que essas roupas são inadequadas para serem vistas “por qualquer um”. O que Simoncini (1991, p.12) escreve sobre o valor da intimidade pessoal nos ajuda a entender por que a roupa íntima deve ficar escondida de todos os olhares públicos: “o que é ‘íntimo’ identifica-se com o que é ‘pessoal’. [...] Há coisas tão íntimas que, ao tornarem-se públicas, esvaem-se, perdem valor, e a pessoa sente-se de certo modo violentada. É como se uma parte de si mesma de despedaçasse e se perdesse no exato momento em que caiu no domínio público.”[1]

Este ensino é claramente confirmado pelo Catecismo da Igreja quando diz que o pudor “inspira um modo de vestir” e “protesta contra a exploração do corpo humano em função de uma curiosidade doentia (como em certo tipo de publicidade), ou contra a solicitação de certos meios de comunicação ir longe demais na revelação de confidências íntimas.” A roupa íntima modesta simboliza algo daquilo que deve ser protegido pela pessoa, e apenas a virtude do pudor pode inspirar “um modo de viver” de acordo com a pureza e assim permitir às mulheres católicas a “resistirem às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes”.[2]

A roupa íntima é a peça que deve ficar entre a pele e a roupa da pessoa. Isto é, ela separa o que é visível aos outros, daquilo que deve permanecer velado. A roupa “íntima” leva esse nome justamente porque revela algo da nossa intimidade: revela partes do nosso corpo que não devem ser mostradas. Aliás, a maioria dos vestidos que são usados hoje serviriam como “roupa íntima”, por cima das quais deveria vir a roupa propriamente dita. Basta olhar as camisolas – de não muitos anos atrás – e percebemos o quanto a intimidade foi violentada.

A “nova moda”, tão mundana e vulgar de mostrar o sutiã, é indigna da mulher.[3] Nota-se uma vulgaridade excessiva nessa “moda” que já invadiu as ruas brasileiras e também nossas paróquias!

No momento em que a mulher está disposta a mostrar uma peça íntima a “qualquer um”, está enviando uma mensagem por sua forma de vestir (ou desnudar): está dizendo que não se preocupa com sua intimidade, que “qualquer um” pode ver aquilo que deveria ser reservado apenas ao seu esposo; está dizendo, enfim, que não se valoriza. Modas que estimulam a mostrar o sutiã, ou qualquer peça de roupa íntima, são modas decadentes que fazem cair em suas armadilhas até mães e avós!

Pelo contrário, a mulher pura deveria tornar realidade as palavras deste esposo: “O respeito pelo segredo da união conjugal, pela profundidade, delicadeza e caráter rotundamente definitivo dessa intimíssima entrega, constitui o pressuposto da pureza. É o respeito que, antes de mais, permite compreender como é pavoroso invadir abusivamente esse campo íntimo, compreender até que ponto há nessa invasão uma profanação e uma degradação de si mesmo e dos outros.” [4]

Redescobrir o valor que temos frente a Deus, frente ao nosso esposo, frente à nossa família, talvez seja um bom começo para não aceitarmos certos modismos lançados por pessoas que, aproveitando-se de sua fama, induzem outros a se rebaixarem. E se a mulher mesma não valorizar sua intimidade, seu tesouro, sua pessoa, como poderá exigir que outros a valorizem ou respeitem?

Que este outro trecho do livro “O pudor” nos inspire a guardar com todo cuidado e zelo a nossa intimidade, e refletir na nossa veste o alto valor que damos a ela:

“Quanto mais rica é uma personalidade mais precisará de privacidade, tanto maior amplidão e valor terá a sua intimidade. São estes os casos em que o senso do pudor é mais forte. As pessoas frívolas, pelo contrário, aquelas que se revelam carentes de uma autêntica vida interior, estão mais inclinadas a tornar pública a sua intimidade. Na sua pobreza moral, consideram-na coisa de pouco valor. Embora sejam egoístas, não se apreciam pelo que valem; não têm escrúpulos em expor-se à curiosidade igualmente frívola daqueles que somente se interessam por assuntos vazios e inconsistentes.” [2]

Diga “não” a modas que são decadentes e passageiras, mas que podem marcar para sempre sua pureza, tão cara a Nosso Senhor!

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Fonte: http://modaemodestia.wordpress.com

[1] SIMONCINI, Ada. Pudor. São Paulo: Ed. Quadrante, 1991.


[2] CIC 2523


[3] Não apenas o sutiã, mas a moda mundana atual quer a mulher andando na rua praticamente nua. Não tendo como ser mais indecente, ela insiste em mostrar a calcinha, o sutiã, os seios, a coxa, e todo o corpo. Onde vamos parar?


[4] Dietrich von Hildebrand em: http://www.quadrante.com.br/Pages/servicos02.asp?id=214&categoria=Valores_Virtudes&tubcategoria

domingo, 13 de março de 2011

Amar a Deus sobre todas as coisas

O primeiro domingo da Quaresma começa com Jesus no deserto, quarenta dias para ser tentado. Segue o texto do evangelho de Mat 4, 1-11 :
1. Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser tentado pelo diabo. 2. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. 3. O tentador aproximou-se e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” 4. Ele respondeu: “Está escrito: Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. 5. Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo. 6. E disse-lhe: “Se és Filho de Deus, joga-te daqui abaixo! Pois está escrito: Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, e eles te carregarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra”. 7. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!” 8. O diabo o levou ainda para uma montanha muito alta. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, 9. e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar”. 10. Jesus lhe disse: “Vai embora, Satanás, pois está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele prestarás culto”. 11. Por fim, o diabo o deixou, e os anjos se aproximaram para servi-lo.
As três tentações fazem referencia a forma com a qual o homem é chamado a amar a Deus, uma forma perfeita, como relata o Deuteronômio “Amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de toda tua força” (Dt 6,5). Jesus ao fim das tentações demonstra a forma do amor perfeito.

A primeira tentação – Não amar a Deus de todo teu coração - Ou seja, com todos os teus desejos interiores. Quando o Senhor nos conquista e nos convida para trilhar um caminho de santidade, a primeira tentação do demônio é fazer-nos colocar nosso interior em outras coisas que não o Senhor, nossas paixões, relacionamentos, afetividade, etc. Também conhecida como a tentação do Prazer.

A segunda tentação – Não amar a Deus de toda tua alma – Ou seja, com tudo que és, com teu corpo físico, alma e espírito. O homem com todo o seu ser, sem divisão. O Senhor nos quer por inteiro, nosso corpo é muito atingido pelo sensualismo das danças, do vestir, etc. Somos chamados a sermos inteiros do Senhor até o martírio se necessário. Essa tentação também pode ser conhecida pela tentação do Poder.

Por fim a terceira tentação – Não amar a Deus com toda força – Ou seja, tuas riquezas, teus bens, é a tentação dos bens materiais. Colocar o que temos acima do Senhor, bens materiais, profissão, estudos. Também conhecida como tentação do Possuir.

Neste evangelho o Senhor nos convida a Amar a Deus sobre todas as coisas, deixemos que o Senhor venha em nosso auxilio, transformar nossos corações para que sejamos inteiramente dele. Não tenhamos medo de ofertar-nos por inteiro ao Senhor.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Só uma palavra sobre a Quaresma

Nesta última quarta-feira, 9 de Março, iniciou-se um novo tempo Quaresmal, um tempo onde a igreja nos convida a trilharmos um caminho de preparação em vista da Páscoa de nosso Senhor . Quaresma é esse período de 40 dias que antecede a semana santa que se encerra com a Páscoa de Cristo, que para nós cristãos, é a maior festa da igreja, pois é quando Jesus se despoja inteiramente de si, ofertando a sua vida por cada um de nós, para nos dá vida nova. Neste tempo unimos a nossa vida à de todos os cristãos em três grandes graças que Cristo nos apresenta: Jejum, esmola e oração.

O jejum, que nos faz lembrar que não só de pão vive o homem, mais de toda palavra de Deus. É através do jejum que mortificamos nossa carne e purificamos nossa alma, contribui para auto domínio sobre os instintos e para liberdade de coração. A esmola, que segue o ritmo das obras de misericórdia, neste caso a corporal, que consistem, sobretudo em dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede, é um dos principais testemunhos de caridade e uma pratica de justiça que agrada a Deus “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com quem não tem, quem tiver o que comer, faça o mesmo” (Lc 3,11), nos ensina a sermos mais solidário com nossos irmãos. E por fim a oração, que nos abre para escutar de Cristo os verdadeiros mandatos para este tempo, Jesus orou durante os quarenta dias que passou no deserto e foi a oração que fortificou para sua paixão, morte e ressurreição.

Neste tempo de uma forma mais profunda também somos chamado à conversão, esse dinamismo de conversão e penitência foi descrito na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é o “Pai das misericórdias”: a ilusão de uma falsa liberdade, o abandono da casa paterna; a extrema miséria que se encontra o filho depois de esbanjar a sua fortuna; a profunda humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior ainda, de querer matar a fome com sua ração; a reflexão sobre os bens perdidos; o arrependimento e a decisão de se declarar-se culpado diante do pai; o caminho de volta; o generoso acolhimento e a alegria do pai: tudo isso são traços específicos do processo de conversão. A túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida do homem que volta para Deus.

Coloquemos nosso coração e nossa vida nas mãos do Senhor, para que assim como o filho pródigo encontrou acolhimento nos braços do pai, nós, pelo caminho de preparação da Quaresma também sejamos acolhidos na alegria da ressurreição.

Referência: Catecismo da Igreja Católica. 1434, 1439, 2447, 2462

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fugir, Covardia ou Sabedoria?



Estava a rezar o terço, quando me deparei com uma frase do Pai Nosso que nunca havia contemplado como dessa vez… “Não nos deixeis cair em tentação”, e fiquei imaginando, as tentações existem em toda parte, no nosso mundo Erotizado, e cheio de malícia, para onde olharmos, lá estarão às tentações a nos rodear, como diz a Palavra de Deus, como um leão faminto esperando para nos devorar. Percebi então que quanto mais às enfrentamos, mais cairemos nelas e por consequência pecaremos.

Então o que fazer se durante o nosso dia, estamos tão susceptíveis a elas, onde estivermos lá estarão elas, sempre a espreita de nossas fraquezas e nossas fragilidades, esperando o momento propício para dar o bote, com todo seu relativismo, com todo seu egoísmo, com todos os seus prazeres, o que fazer? Só há uma coisa, fugir. Que! Fugir? Não seria assim eu, então um covarde? E onde esta a Graça de Deus?

Bem, existe uma grande diferença entre covardia e sabedoria, e é exatamente ai onde entra a Graça de Deus. A Graça de Deus nos dá a sabedoria para fugir dessas tentações. Precisamos lembrar-nos de dois momentos cruciais da vida de Jesus, o primeiro quando Ele fugiu dos doutores da lei, tantas pessoas querendo apanhá-lo e Ele escapa (Jo 7,30). Outro momento no deserto, quando por três vezes Jesus é tentado pelo demônio, como Ele de forma sabia escapa novamente (Luc 4,1-13). Ou seja, fugir não é sinônimo de covardia mais no nosso dicionário fugir é sabedoria. Se realmente me conheço, sei que muitas coisas me fazem pecar. E não adianta querer dialogar com a tentação. Não adianta eu querer da uma de forte, preciso me reconhecer fraco para Deus vencer. Gostaria aqui de citar nossos pais no paraíso, mais especificamente Eva, ela quis dialogar com a serpente (Gen 3, 1-7), caiu, talvez ela achasse que não, como muitas vezes nós também achamos, muitas vezes, achamos que uma “espiadinha” não nos fará mal, quando na verdade essa simples espiadinha polui nossos pensamentos e nossa memória, somos atormentados por pensamentos que surgem em conversas que achamos que não nos fará mal, ou por cenas de novelas que por vezes ainda achamos que não há nada demais assistirmos, ou festas que aparentemente não nos causa nenhum mal, mais que no fundo de nossa alma suja e mancha o templo santo de Cristo.

A tudo isso só nos há uma coisa a fazer, Fugir! Não temos escolha, é fugir da tentação. Isso nos fará ganhar o céu.
 
Texto Publicado em WagnerGamaRN

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Septuagésima

por Carlos Ramalhete


Quanto eu era criança e estudava de manhã, eu sempre ficava impressionado com um amigo e colega de colégio, que morava defronte à escola. Havia três sinais, três toques da campainha, antes do início da aula: no primeiro, sabíamos que ainda havia 15 minutos para o início da aula. No segundo, sabíamos que era a hora de entrar na sala. No terceiro, as portas se fechavam e quem não houvesse entrado teria que esperar o início da próxima aula.

Este meu amigo, aproveitando que da cama à carteira escolar havia menos de duzentos metros, havia desenvolvido o hábito de acordar com o primeiro sinal, vestir-se, descer correndo as escadas de casa, atravessar a rua, subir correndo as escadas da escola, e entrar na sala imediatamente antes das portas se fecharem. Sentava, provavelmente com gosto de cabo de guarda-chuva na boca, remelas pendendo das pálpebras inchadas e o raciocínio confuso de quem ainda não acordou direito. Mas sentava na carteira; estava lá na hora da aula.

Estes três sinais, que eram para nós um aviso gradual, eram para ele outra coisa: um susto, uma correria que para ele se justificava pelos minutinhos a mais de sono que ele conseguia ter.

A Igreja, na sua sabedoria, desenvolveu ao longo dos séculos uma prática de "gradualidade", de preparação cuidadosa de cada momento importante. Antes do Natal, temos o Advento; hoje, com a transformação do Natal em festa comercial, muitos têm a impressão de que o Tempo do Natal é imediatamente antes da festa, acabando nela. Na verdade, antes do natal é o Advento, tempo de preparação, com o Natal propriamente dito durando do dia da festa ao dia de Reis.

E antes da Páscoa, que é a festa por excelência, a festa em que celebramos a nossa Salvação, o presente imerecido e maravilhoso que Deus nos deu em Seu amor, temos a Quaresma.

O termo "Quaresma" é uma corruptela de "quadragésima" - 40a - por corresponder a quarenta dias de penitência, em que nos preparamos, tentando nos livrar das muitas armadlhas do mundo, para que sejamos menos indignos de receber tão magnífico presente, pela Páscoa. Na Quaresma não se canta o Aleluia, na Quaresma não se canta o Glória. É um tempo penitencial, um tempo de recolhimento e preparação.

A Quaresma, contudo, nem sempre começou tão subitamente; hoje, infelizmente, no calendário ordinário passamos diretamente do tempo comum ao auge do tempo penitencial. O resultado é que muitas vezes chegamos à Quaresma como meu amigo chegava à sala de aula: remelentos, olhos inchados, com gosto ruim na boca e sem entender muito bem o que está acontecendo.

No calendário clássico, que ao lado do atual - embora menos comum - continua sendo usado e orientando a vida litúrgica da forma extraordinária do Rito Romano, a Quaresma - quadragésima - é precedida de um tempo chamado Septuagésima.

Este tempo conta três domingos: o Domingo da Septuagésima propriamente dito, o Domingo da Sexagésima e o Domingo da Quinquagésima (também conhecido como Domingo de Carnaval). Como as semanas não têm dez dias, os nomes são simbólicos, lembrando-nos dos setenta anos de duração que teve o exílio babilônico do povo hebreu e contando o tempo para a chegada da Quaresma.

Como os três sinais que na escola avisavam que a aula iria começar em breve, dando-nos tempo para subir com vagar as escadas, lavar o rosto, preparar-se para aprender, o tempo da Septuagésima é um tempo em que podemos ir aos poucos nos aproximando do mistério quaresmal, podemos ir aos poucos restringindo os nossos mimos, a nossa "vida fácil", para que entremos na Quaresma já em pleno espírito penitencial.

Em muitas tradições cristãs, a abstinência começa antes da Quaresma; os gregos, por exemplo, que se abstém não apenas de carne, como nós (no Brasil há a possibilidade de trocar a abstinência de carne por outra penitência, mas é a abstinência a regra), mas também de ovos e derivados de leite, cortam a carne num domingo, os ovos e derivados mais tarde, etc., de modo a ir aos poucos acostumando-se ao rigor quaresmal. Entre nós, por muito tempo foi comum que os monges iniciassem sua abstinência na Sexagésima e os clérigos na Quinquagésima, com o laicato assumindo-a apenas na Quarta-Feira de Cinzas.

Outros sinais, contudo, permaneceram na forma clássica da liturgia. O Aleluia, por exemplo, não é mais cantado ou dito na forma extraordinária a partir do início da Septuagésima. Em muitos lugares havia até mesmo o hábito de fazer uma despedida solene - ou mesmo um enterro, com caixão e tudo! - do Aleluia; na Europa, havia hinos celebrando tristemente esta separação entre os habitantes da terra - indignos de cantá-lo - e os habitantes do Céu, que nunca param de fazê-lo. Antes do Evangelho, O Aleluia é substituído no Domingo da Septuagésima pelo De Profundiis: "das profundezas clamo a Vós, Senhor..."

Ao mesmo tempo vai-se o Glória, que só voltará, em júbilo, na Páscoa.

No entanto, a vida continua mais ou menos igual: ainda não há jejum, ainda não há abstinência, as imagens dos Santos ainda não foram cobertas por panos roxos (belo costume quaresmal ainda presente em muitos lugares), já presentes nos paramentos. É uma preparação para a Quaresma, uma série de avisos, uma entrada gradual no Mistério quaresmal, que será assim atingido aos poucos, para que a sua chegada súbita não nos pegue desprevenidos. Nada de sustos, nada de olhos inchados e remelentos!

As leituras da Santa Missa ajudam nesta preparação: No Domingo da Septuagésima, lê-se a história da Queda. Em seguida, vai-se percorrendo a História da Salvação, da Redenção; A Igreja nos conta de Noé na Sexagésima, e de Abraão na Quinquagésima: não estamos sozinhos! Na Quarta-Feira de Cinzas, fala-nos o santo profeta Joel: "Jejuai!" E recomenda Nosso Senhor: "quando jejuardes, não façais como os hipócritas"...

É a Quaresma que se inicia, preparando-nos, burilando-nos, polindo-nos para que, chegada a Páscoa, possamos nos reencontrar, felizes, com o Aleluia, com o Glória, com a re-ligação de Céus e Terra, na perfeita similitude e presença da Missa eterna da Jerusalém celeste em cada Missa celebrada em cada pequena capelinha do interior.

Pediu o Santo Padre que haja em enriquecimento mútuo das Formas Ordinária e Extraordinária da liturgia. Isto inclui, evidentemente, os calendários. Espero em Deus que a Forma Ordinária recupere em breve este tesouro, tão adequado à natureza humana, tão perfeitamente alinhado a nossas necessidades, que é o tempo da Septuagésima.

***

E cala-se o Aleluia. E faz-se o silêncio. E chega, belo e assustador em toda a sua mística dimensão, o Mistério da Quaresma, Mistério de amor e de dor, de penitência e de esperança.

Unamos nossa voz à dos gregos, que cantam por esses dias:

"Abriu-se a porta da penitência; vinde, amigos de Deus, apressemo-nos de entrar, temendo que o Cristo no-la feche como a indignos! Ó, irmãos, munamo-nos da pureza, da abstinência, da modéstia, da força, da prudência, da oração e das lágrimas: é por estas virtudes que se abrirá para nós o sendeiro da justiça."

Laus tibi, Domine, Rex œternœ gloriœ !

sexta-feira, 4 de março de 2011

Os Erros da Bíblia Edição Pastoral

Em síntese: A “Bíblia. Edição Pastoral”, em tradução e notas de Ivo Storniolo e Euclides Balancin, não preenche a finalidade que se propõe. Inspirada por ideologia marxista, deturpa as concepções da história sagrada e da teologia; a leitura materialista aplicada ao texto sagrado torna a mensagem imanentista, fazendo-a perder o seu caráter transcendental. O Vocabulário do fim do volume e as notas de rodapé dão as chaves de interpretação dos livros bíblicos; a própria tradução portuguesa, num ou noutro ponto, deturpa o sentido do texto sagrado. Em conseqüência, deve-se lamentar a difusão de tal obra nos ambientes eclesiásticos do Brasil. A Pastoral não significa incitamento à luta de classes e às divisões entre os homens.

por:D. Estevão Bettencout, osb



As Edições Paulinas publicaram uma nova tradução da Bíblia dita “Pastoral” (BP), acompanhada de notas de rodapé e Vocabulário, que vêm suscitando perplexidade: há os que defendem tal edição, devida a Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, como sendo “o livro ideal” (ver “Jornal de Opinião”, 1-7/7/90, p. 3). Mas há também os que a impugnam com argumentos sérios, mostrando graves falhas na inspiração básica e na confecção de tal tarefa. O assunto já foi abordado em PR 337/1990, pp. 285s. Voltamos ao problema, aduzindo novas observações, provenientes, em grande parte, de D. João Evangelista Martins Terra S. J., Bispo  Auxiliar de Olinda-Recife, Membro da Equipe Teológica do CELAM e da Pontifícia Comissão Bíblica.
1.    Três observações básicas 

A tradução do texto bíblico da Edição Pastoral é aceitável com algumas ressalvas, que indicaremos à p. 523s deste artigo. Todavia, as notas de pé de página e o Vocabulário, encontrado às pp. 1616-23, pretendendo dar a chave de leitura e interpretação da Bíblia, são alheios à Tradição bíblica judeo-cristã e distorcem a mensagem sagrada para o setor da ideologia sócio-político-econômica. Sem o perceber, o leitor desprevenido vai absorvendo uma concepção filosófica não cristã sob a capa de Palavra de Deus. Isto se depreende facilmente desde que se dê um pouco de atenção ao Vocabulário dessa Edição.


1.1.        O elenco do Vocabulário

Eis os principais verbetes que interessam aos estudos e ao linguajar bíblicos ou os principais vocábulos da mensagem bíblica tomada como tal: Aarão, Abel, Abraão, Ação de graças, Adão, Adoração, Adultério, Água, Alma, Anjo…
Bem diferentes são os verbetes do Léxico da Edição Pastoral dispostos segundo a ordem alfabética: Aliança, Alienação, Amor, Autoridade, Auto-suficiência, Campo, Celebração, Cidade, Comércio, Compaixão, Comunidade, Conflito, Consciência, Conversão, Corrupção, Dinheiro, Direito, Discernimento, Dominação, Educação, Encarnação, Escravidão, Esperança, Exploração, Fé, Fraternidade, Gratidão, Herança, História, Idolatria, Injustiça, Integridade, Javé, Jesus, Julgamento, Justiça, Lei, Liberdade, Libertação, Liderança, Lucro, Memória,… Poder,…Produção, Projeto de Deus, Prosperidade,… Repressão,… Riqueza, Roubo, Tributo,… Violência… Estes vocábulos têm sua repercussão nas notas de rodapé, inspirando uma doutrina que já não é bíblica, mas preponderantemente marxista. Os próprios vocábulos tipicamente bíblicos que ocorrem no Léxico Pastoral, são esvaziados de seu conteúdo próprio e característico para assumir significação ideológica. Assim, por exemplo:
Aliança: É o centro da Bíblia. Deus se alia com os pobres e oprimidos para construir uma sociedade e uma história voltadas para a vida”.
Ora é de notar que a Aliança de Deus com os homens não começa na época dos pobres e oprimidos, mas é universal ou destinada a todos desde o início; o segundo Adão, Jesus Cristo, Mediador da nova e definitiva Aliança, tem sua imagem ou seu esboço no primeiro Adão, pai de toda a humanidade, conforme Rm 5, 14; é com os primeiros pais que Deus trava a primeira Aliança, voltada para todos os homens, conforme Eclo 17, 10.
Amor: Mistério de Deus e do homem. Gera a relação de onde brotam a liberdade e a vida”.

Celebração: Reunião  do povo para comemorar os fatos centrais da vida e conservar a lembrança dos acontecimentos que marcaram a caminhada do povo”.

Este conceito se aplica às celebrações cívicas, não, porém, às celebrações litúrgicas, nas quais se torna presente e atuante a Páscoa (morte e Ressurreição) de Jesus Cristo para fazer que os homens participem da obra da Redenção.

Esperança: Dinamismo que mantém o povo aberto para realizar plenamente o projeto de Deus. A esperança leva o povo a buscar transformações econômicas, políticas, sociais e religiosas”.
Silencia-se o objeto supremo da esperança cristã, que é a vida eterna com a visão de Deus face-à-face.

Fraternidade: … Relação igualitária, onde todos, como irmãos, podem participar das decisões que constroem a sociedade, e juntos usufruir dos bens que cada um produz”.

Javé: É o misterioso Deus vivo que se manifesta respondendo ao clamor dos pobres e oprimidos para os libertar dos exploradores e opressores. Ele é a fonte e a meta da liberdade e da vida. Por isto é aliado daqueles que buscam  liberdade e vida, opondo-se a todas as pessoas e estruturas que produzem escravidão e morte”.
 
Justiça: Realização do projeto de Deus. A justiça se concretiza na partilha e na fraternidade, dirigindo-se a sociedade para a solidariedade e a paz. Exige, para todos, a distribuição igualitária dos bens e a possibilidade de participar das decisões que regem a vida e a história do povo. Na Bíblia a justiça é eminentemente partidária, visando a defender a causa dos indefesos”.

Como se vê, os conceitos bíblicos são todos analisados em chave sócio-política, que supõe a luta de classes na sociedade.
Duas noções  merecem especial atenção.

1.2.        A Revelação

Eis como a apresenta o Vocabulário:

Revelação: Manifestação de Deus através das realidades da vida e dos acontecimentos da história. Mostra o caminho que o povo deve seguir. Exige a atenção do homem, pois Deus está continuamente se revelando”.

O conceito de Revelação que até hoje se prolonga, é ambíguo. A fé católica distingue:
1) A Revelação de Deus normativa que manifesta  o desígnio de Deus e os meios de salvação; encerra-se com Jesus Cristo, como diz a própria S. Escritura: “Outrora muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos pais  pelos Profetas. No período final, em que estamos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,1s).
2) Após Jesus Cristo, não há Revelação normativa; Deus proporciona “os sinais dos tempos” que reavivam no homem a consciência das verdades da fé, mas  nada acrescentam de novo; estamos nos últimos tempos relativamente à doutrina (cf. 1Jo 2, 18).

O Papa Pio X condenou explicitamente a proposição modernista que dizia:
“A Revelação que constitui o objeto da fé católica, não se encerrou com os Apóstolos” (Denzinger-Schönmetzer, Enchiridion n.º 3421 [2021]).

O Concílio do Vaticano II reafirmou a clássica doutrina:
“Jesus  Cristo aperfeiçoa e completa a Revelação e a confirma com o testemunho divino de que Deus está conosco… A economia cristã, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14 e Tt 2,13)”  (Const. Dei Verbum n.º 4).
Vê-se pois, que o Vocabulário da Bíblia Pastoral está longe do genuíno pensamento católico.

1.3.        Projeto de Deus
Todo o Vocabulário e as notas de rodapé são perpassadas pela noção de projeto de  Deus, que dá o sentido aos demais verbetes. Ocorre mais de seiscentas vezes na Edição Pastoral, e até mesmo cinco ou seis vezes na mesma frase.

Ora “projeto de Deus” no contexto dessa obra não é uma noção teológica; não significa nem Providência nem desígnio de Deus, mas, sim, algo de tipicamente marxista, como se depreende a seguir:
Projeto de Deus: Aliando-se aos que são marginalizados pelo sistema injusto. Deus entra na história com novo caminho: promover a liberdade e a vida para todos. Todavia esse projeto está sempre em conflito com o projeto das nações que alicerçam sua riqueza e poder sobre a escravidão e a morte do povo. A luta para manter vivo dentro da história o projeto de Deus é o ponto de honra do povo de Deus”.
Como dito, a expressão “projeto de Deus” entra na composição de muitos outros verbetes do Vocabulário como um chavão ideológico. Eis alguns espécimens:
Comércio: Atividade econômica fundamental da cidade, destinada… a gerar lucro, exploração e riqueza.No projeto de Deus, o comércio é superado pela partilha e gratuidade”.

Conflito: Choque entre grupos que têm objetivos e interesses diferentes. Na Bíblia, o principal conflito aparece entre o projeto de Deus para a vida e os projetos da auto-suficiência, que geram a morte”.

Consciência: Compreensão que o povo tem da realidade, a partir do projeto de Deus. Ela demitiza a ideologia da classe dominante, e cria discernimento para se construir uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade”.

Educação: Relação entre gerações (pais-filhos), na qual se transmite a memória das lutas do povo, a fim de que a nova  geração aprenda com os erros e acertos de seus pais. Dessa forma, a nova geração poderá criar caminhos novos e alternativos para realizar o projeto de Deus na história. As tradições da Bíblia se conservaram graças a esse processo”.

Encarnação: Deus encarna-se na vida e na história humanas, mostrando o valor inestimável que elas têm diante dele. A coerência com a fé exige que nos encarnemos também para que o projeto de Deus transforme as estruturas políticas e econômicas, dirigindo a história para a liberdade e a vida”.

Propriedade: O direito de propriedade é sagrado, e o mundo deve ser igualitariamente distribuído entre todos. A acumulação de propriedade, formando latifúndios, e a especulação imobiliária são contrárias ao projeto de Deus”.

Ressurreição: Passagem da morte para a vida. Não se refere apenas à morte física, mas a todas as mortes geradas por projetos contrários ao projeto de Deus”.

Sociedade: Grupo humano que realiza um projeto em comum, organizado em nível econômico, político, social e ideológico. Nem sempre a sociedade vive o seu projeto de acordo com o projeto de Deus, que provoca transformações  profundas nas relações sociais”.

Estes poucos espécimens mostram que a mensagem bíblica é toda repensada e posta estritamente a serviço de transformações sócio-político-econômicas imanentes, sem que haja acenos à transcendência para a qual devem caminhar o homem e a história. A justiça e a reta ordem social neste mundo são germens do Reino de Deus, que só estará consumado no fim dos tempos ou no Além, jamais no decorrer da história. O materialismo marxista é que julga poder prometer a plena realização das aspirações dos homens no decurso da história mediante a redistribuição dos meios de produção material.

2.    A filosofia subjacente

Quem lê atentamente os verbetes do Vocabulário e as notas de rodapé da BP verifica que são devedores ao que se chama “a leitura materialista da Bíblia”. Esta não nega  Deus e os valores espirituais, mas julga que são “super-estrutura” ou derivados da “infra-estrutura” ou do jogo dos bens materiais no curso da história. Com outras palavras: supõe que os fatores decisivos da história sejam de ordem material (econômica) e política; a  procura de posse dos bens materiais e do poder moveria todos os acontecimentos da história e condicionaria a crença em Deus, o culto religioso e a definição das normas morais. Adotando teses do marxismo, os fautores da leitura materialista da Bíblia contrapõem entre si campocidade, como, aliás, fazem I. Storniolo e E. Balancin:
Campo: É o polo fundamental da produção  que sustenta a vida. É explorado pela cidade”.
Cidade: Lugar da riqueza e do poder, que se concentram na mão de poucos, produzindo conflitos, principalmente com o campo” (p. 1616).

Partindo destes conceitos, os autores das notas da BP comentam o texto bíblico de maneira artificial e deformante:
Assim, por exemplo, o livro do Gênesis refere que Lote se separou de Abraão, ficando aquele com as cidades, e este com os campos. A nota a Gn 13,1-18 diz então o seguinte: “Ló escolhe a região onde estão as cidades; assim ele entra no âmbito de uma estrutura que se sustenta graças à exploração e opressão do povo. Abraão, ao invés, fica aberto para uma história nova, fundada unicamente no projeto de Deus” (p. 26).
O comentário de Js 4,1-24 justifica a partilha da terra de Canaã pelos filhos de Israel nos seguintes termos:
“Antes da instalação de Israel, Canaã era um conjunto de cidades-Estado que oprimiam e empobreciam a população camponesa, através do sistema tributário. A conquista realizada por Israel derrotou esse sistema e implantou o sistema das  doze tribos…, visando construir uma sociedade justa e igualitária… A nova geração deve ser educada a não voltar para trás, reproduzindo o sistema social injusto” (p. 244).
Vejam-se as notas paralelas:
“Só existe verdadeira paz quando se erradica completamente o sistema injusto que explora e oprime o povo” (p. 253).
“A conquista da terra… destrói um sistema classista injusto” (p. 255).
“As  Cidades-Estado de Canaã justificavam a política opressora e exploradora dos seus reis” (p. 272).
“Sem poder mais explorar os camponeses e suas terras, tais cidades não conseguiram oferecer sacrifício… seus armazéns ficaram vazios por falta de trigo. Enquanto isso, os camponeses vitoriosos conseguiram livrar-se dos tributos e puderam gozar da fartura” (p. 274).
“Para uma volta ao projeto de Javé, é necessário romper… o sistema opressor das cidades” (p. 276).
A leitura materialista da Bíblia, julgando que as cidades se enriquecem mediante o tributo cobrado dos camponeses, afirma que os tempos religiosos vêm a ser centros econômicos e políticos nos quais se deposita o lucro resultante da exploração comercial e tributária. É por isto que na p. 1237 se lê em rodapé:
“No tempo de Jesus o templo (de Jerusalém) possui imensas riquezas e toda a cúpula governamental age a partir daí. Desse modo a casa de oração e ofertas a Deus se torna um imenso Banco e lugar de poder político. Em outras palavras, a religião se torna instrumento de exploração e opressão do povo”.
Desnecessário é dizer que esta descrição  fantástica do Templo no tempo de Jesus carece de toda base histórica. Esse Templo, devido ao rei Herodes, ainda estava em fase de acabamento na época de Jesus; as obras de  decoração demoravam por falta de recursos, como descreve pormenorizadamente o historiador judeu contemporâneo de Jesus, Flávio José (Antigüidades Judaicas 15, 380-425).
Pelos mesmos motivos é despropositado o comentário feito em rodapé a Mc 11,15 (expulsão dos vendilhões do Templo):
“Acusando e atacando o comércio existente dentro do Templo, Jesus retira as bases sobre as quais se apoiava toda uma sociedade. Com efeito, era com esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de Jesus mexe não só com um modo de vida religiosa, mas com toda uma estrutura que usa a religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e sustentar uma visão mesquinha de salvação. Por isso, os que se favorecem desse sistema, pensam em matar Jesus, mas temem o povo” (p. 1298).
Este comentário fica longe da realidade histórica. O que ocorria no tempo de Jesus, era o seguinte: como em todos os santuários (ou mesmo como em todos os lugares onde se aglomera muita gente), no Templo de Jerusalém acorriam, nos dias  de festa, camelôs e vendedoras ambulantes que armavam suas bancas para vender alimentos, objetos para o culto (vítimas), lembranças ou para fazer o câmbio das moedas estrangeiras. Esses pequenos comerciantes prestavam serviço aos milhares de peregrinos que afluíam ao Templo nas grande solenidades; mas o acúmulo de gente, com suas necessidades, dava ocasião propícia à ganância e à exploração. Entende-se então que Jesus tenha reagido contra esses abusos; tal reação, porém, não teve, em absoluto, as proporções que a Bíblia Pastoral lhe atribui:
“Acusando e atacando o comércio existente no Templo, Jesus retira as bases sobre as quais toda uma sociedade se apoiava. De fato, era com esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de Jesus abala não apenas um sistema de vida religiosa, mas toda  uma estrutura que usa da religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e para sustentar uma visão mesquinha de salvação. Jesus é apresentado como o rei legítimo, centro de nova aliança: ele… é aclamado pelas crianças como o Messias. Aqueles que são privados de apoio oficial e de poder, estão prontos para receber Jesus, enquanto as autoridades o rejeitam” (p. 1267).
Eis alguns espécimens da leitura materialista realizada pelos responsáveis da BP. Não se encontra nesta alguma alusão aos Santos Padres, à Tradição e ao Magistério da Igreja; o que aí se incute, é a perspectiva de uma sociedade estruturada segundo o marxismo e não a imagem do Reino de Deus em demanda de sua consumação escatológica.
“Mc 8,27-33: A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres, e poderosos à custa de fracos. Por isto, essa sociedade vai mater Jesus antes que ele a destrua”.
É este o comentário a uma passagem evangélica que fala da morte e ressurreição de Jesus. Estas são simplesmente silenciadas pelos comentadores, como se  não tivessem, antes do mais, importância transcendental.
Além de se ressentir de inspiração ideológica marxista, a Edição Pastoral comete seus erros teológicos e exegéticos, como se verá a seguir.

3.    Erros doutrinários

1. No tocante à vida póstuma, os autores das notas parecem professar a ressurreição dos corpos logo após a morte do indivíduo, em desacordo com a doutrina oficial da Igreja e dos textos da própria Bíblia. Com efeito, eis o que se lê à p. 1476:
“Em Corinto alguns pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha… Outros pensam que tudo termina com a morte… Paulo mostra que ambas as opiniões são contrárias ao núcleo da fé cristã”.
Na verdade, a própria S. Escritura (ou o próprio São Paulo) professa a sobrevivência da alma sem o corpo, ficando  a ressurreição da carne reservada para o fim dos tempos. Ver, por exemplo:
1Cor 15, 22-24a : “Assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda (parusia). A seguir, haverá o fim”.
1Ts 4,16s: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares”.
Estes dois textos situam a ressurreição dos mortos no momento da parusia ou da segunda vinda de Cristo. – Entre a morte  do corpo e a ressurreição no fim dos tempos, a alma separada do corpo goza da sua sorte eterna (bem-aventurada, se a pessoa morreu em graça):
2Cor 5,8: “Estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor”.
Fl 1,23: “Meu desejo é partir e estar com Cristo, pois isto me é muito melhor”.
Lc 23, 43: Disse Jesus ao bom ladrão pouco antes de morrer: “Em verdade eu te digo: Hoje estarás comigo no paraíso”.
A Congregação para a Doutrina da Fé explicitou esta doutrina numa Instrução datada de 17/05/1979, onde se lê:
“…3) A Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o “eu humano” subsista, mesmo sem corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra  “alma”, consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada  Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga, não obstante, que não existe qualquer razão séria para o rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos…
5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, que Ela considera como distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente depois da morte.
6) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tirasse o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos”.
2. Algumas vezes as notas de rodapé da BP, de índole histórica, são derivadas da Bíblia de Jerusalém. Mas nem sempre de modo inteligente. Assim, por exemplo, no comentário de Ex 23, 14-19 a Bíblia Pastoral repete o mesmo erro que já ocorria na Bíblia de Jerusalém em português, afirmando que a festa das Semanas era celebrada durante sete semanas ou cinqüenta dias (p. 96). Ora a Festa das Semanas, chamada Pentecostes em grego, era celebrada cinqüenta dias após o começo da colheita, como explicam Dt 16,9 e Lv 23,16, mas não durava cinqüenta dias; durava um dia apenas!
3. A  BP traduz 1Cor 7, 36-38 nos seguintes termos:
“Se alguém, transbordando de paixão, acha que não conseguirá respeitar a noiva, e que as coisas devem seguir o seu curso, faça o que quiser. Não peca; que se casem. Ao contrário, se alguém, por firme convicção, sem constrangimento e no plano uso de sua vontade, resolve respeitar a sua noiva, está agindo bem. Portanto, quem se casa com sua noiva faz bem; e quem não se casa, procede melhor ainda”.
Ora o texto grego original fala de virgem (parthénos), e não de noiva (nymphe). A tradução clássica é apresentada pela Bíblia de Jerusalém:
“Se alguém julga agir de modo inconveniente para com a sua virgem, deixando-a passar da flor da idade, e que portanto deve casá-la, faça o que quiser; não peca. Que se realize o casamento! Mas aquele que, no seu coração, tomou firme propósito, sem coação e no pleno uso da própria vontade, e em seu íntimo decidiu conservar a sua virgem, esse procede bem. Portanto procede bem aquele que casa a sua virgem; e aquele que não a casa, procede melhor ainda”.
Em nota a Bíblia de Jerusalém alude à tradução adotada pela BP como sendo pouco habitual. A BPprefere a nova maneira de traduzir, sem dar informações sobre o seu caráter muito hipotético.

4.    Conclusão

É louvável a intenção de tornar o texto bíblico acessível e compreensível ao maior  número possível de leitores. Isto, porém, não significa incutir determinada opção ideológica, de mais a mais que a ideologia marxista se apresenta ao mundo de hoje como fracassada e ultrapassada. A Justiça Social é sumamente desejável, sim; ela decorre da própria mensagem bíblica que a Doutrina Social da Igreja, através das encíclicas papais, vem desenvolvendo e aplicando aos nossos tempos. A Igreja não precisa de recorrer a sistemas heterogêneos para propor aos homens a autêntica mensagem da salvação.
Notemos a grande responsabilidade que toca a tradutores e editores da Bíblia: a linguagem do texto sagrado penetra e forma a mentalidade do povo que a lê. A tradução de Lutero plasmou a língua alemã. Permita Deus que a sua santa Palavra não sirva de instrumento para levar o povo cristão à deterioração e a desvios da fé!
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Fonte: Revista: "Pergunte e Responderemos" Nº 342 – Ano 1990 – Pág. 514



quinta-feira, 3 de março de 2011

A Missa é muito mais que uma reunião fraterna

 Dom Hilário Moser, SDB Bispo Emérito de Tubarão (SC),  O artigo tinha sido publicado no blog do Professor Felipe Aquino, contudo foi publicada primeiramente no blog do Bispo. Grifei algumas partes que achei importantes


Quando a Liturgia se corrompe, é toda a vida cristã que corre perigo de se corromper.
A Liturgia é a oração oficial da Igreja, do Povo de Deus, do Corpo Místico de Cristo.
Na Liturgia, é o próprio Jesus, junto com todos os que estão unidos a ele pelos laços da fé, do batismo e do Espírito Santo, que se apresenta ao Pai em sacrifício de salvação do mundo inteiro; que ora ao Pai, que lhe oferece louvor, adoração, agradecimento, pedido de perdão, pedido de ajuda...
O centro da Liturgia é JESUS.
Ela não é – não pode ser! – propriedade particular de nenhum celebrante, de nenhuma comunidade, de nenhum grupo de fiéis, de ninguém: cabe à Igreja – e só à Igreja – organizá-la, modificá-la, aperfeiçoá-la.
Infelizmente, em nome de uma criatividade mal entendida (e de um Concílio Vaticano II mal interpretado), a Liturgia tem sido muitas vezes manipulada a bel prazer.
Indo muito além da liberdade de ação que ela própria permite, tem-se visto de tudo em algumas celebrações litúrgicas.
O fato é que quando as pessoas se permitem certas liberdades no campo da Liturgia, violando suas normas e seus limites, as mesmas atitudes, aos poucos, vão sendo permitidas em outros campos da vida cristã, ou seja, na moral, nos mandamentos, na doutrina e por aí afora.
Tudo fica relativo, isto é, tudo depende do ponto de vista de cada um e cada um faz “do jeito que gosta”.
Corrompida a Liturgia, corrompe-se também a vida cristã e eclesial.
Sem entrar em detalhes, a Liturgia – sempre! – deve pôr em seu centro JESUS, sua vida, sua palavra, sua morte, sua ressurreição, sua presença no meio de nós.
Neste sentido, não é a comunidade o centro da Liturgia, menos ainda o celebrante.
A comunidade e o celebrante se reúnem em torno do Senhor.
É a Ele que deve ser orientada a participação da comunidade e a ação do celebrante.
O celebrante deve ter a consciência e a humildade de não pretender ser o centro das atenções; deve rejeitar todo tipo de exibicionismo.
Pelo contrário, a fé e a devoção do celebrante devem dar o tom da celebração.
A comunidade precisa ser informada e formada para que sua participação não se torne um “festival”, onde há muita “alegria e participação”, mas onde falta o silêncio, a concentração, a atenção à Palavra de Deus, o respeito pelo Corpo e Sangue de Cristo.
Sobre este ponto, no dia 15 de abril de 2010, ao receber em audiência os bispos do Regional Norte 2 da CNBB, Bento XVI dirigiu-lhes palavras muito oportunas.
É bom que você conheça as passagens principais e compreenda sua importância para que uma celebração eucarística seja autêntica.
– “Sinto que o centro e a fonte permanente do ministério do Papa estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja. Podeis assim compreender a preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor”.
– “Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2)”.
– “Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)”!
– “O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambiguidades e reduções», particularmentequando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).
– "O culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap.Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro”.
Até aqui as palavras de Bento XVI.
Reflita um pouco sobre elas.
Pelo que depender de você, ponha no centro da Liturgia, em particular da Eucaristia, o próprio Jesus e, junto com sua comunidade, volte-se para Ele e permita que Ele tome conta de sua vida.
Não faça da Liturgia um laboratório de experiências, que só na aparência seriam pastorais...
Respeite a Liturgia tal como a Igreja propõe: respeitar a Liturgia, em particular a Eucaristia, é respeitar a oração do próprio Jesus.
Faça da Eucaristia, celebrada e participada com fé, devoção e respeito, como o “fogo da lareira” que aquece toda a sua vida de discípulo/a de Jesus.
Particularmente a Eucaristia nos domingos e dias santos: sem ela, você “esfria” no seguimento do Mestre.
Sem Eucaristia, o mundo iria de mal a pior, pois a Eucaristia é Jesus.
E Jesus é o único que pode salvar o mundo.