sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Batalha de Lepanto: a origem da festa de Nossa Senhora do Rosário



Quando, no ano da Redenção de 1566, o Cardeal Ghislieri foi elevado ao trono pontifício com o nome de Pio V, a situação da Cristandade era angustiante. Com efeito, fazia aproximadamente um século que os turcos avançavam sobre a Europa, por mar e através dos Bálcãs, no intuito insolente de sujeitar à lei de Mafoma as nações católicas, e sobretudo de chegar até Roma, onde um de seus sultões queria entrar a cavalo na Basílica de São Pedro.

Mas o pior dos males não vinha de fora. O flagelo do protestantismo fizera apostatar a Inglaterra (subjugando a Irlanda e ameaçando a Escócia), continuava a alastrar-se pela Alemanha e convulsionava a França. A esse quadro de desgraças somava-se a cobiça dos reis e príncipes católicos, que já não eram movidos por aquele zelo da Fé e adesão à Igreja, que levara seus antepassados a atender à convocação da cruzada aos brados de "Deus o quer!". Alguns não hesitavam ante vergonhosas e espúrias alianças com os próprios turcos, para investir contra outras nações católicas, visando conquistas territoriais, glória mundana e poder.

O poderio otomano atinge seu ápice
 
Em 1457 caíra Constantinopla. Transposto o Bósforo, os infiéis avançaram sobre as regiões balcânicas, subjugando a Albânia, a Macedônia, a Bósnia. Ao mesmo tempo iam tomando uma a uma as ilhas do arquipélago grego. Nos primeiros anos do século XVI, o sultão Selim I aumentou seu poderio conquistando a Pérsia e o Egito. O ano de 1522 viu cair a fortaleza de Rhodes, defendida heroicamente pelos monges cavaleiros da Ordem de S. João de Jerusalém, como o bastião avançado da Cristandade, para onde se haviam retirado após a perda de seu último reduto na Palestina, o forte de São João d’Acre. Em 1524 o novo sultão Solimão II, chamado o magnífico, ocupava e tratava duramente Belgrado. Seis anos mais tarde, 300.000 otomanos chegaram às portas de Viena. Não conseguindo tomar a cidade depois de quinze violentos assaltos, retiraram-se, levando cativos 3.000 cristãos.

A crônica anônima publicada em 1573 registra com espanto que em setembro de 1534 o senhor de Túnis, Barba Ruiva, terrível corsário do Sultão, "atacou uma cidade através de uma praia marítima romana", apanhando os habitantes de modo tão imprevisto, que estes não puderam resistir. A cidade foi saqueada e queimada, e todos os seus moradores de 10 a 30 anos foram levados como escravos. Pouco depois o mesmo pirata assaltava Fondi, senhorio dos príncipes Colonna e Itri, desta vez sem grande êxito. Roma não estava longe...

No litoral dalmático os turcos não cessavam de atacar, saqueavam e destruíam as cidades que estavam debaixo da tutela da sereníssima república de Veneza: Clissa, Prevesa, Castelnuovo e as ilhas mais ao sul, próximas à Grécia. Enquanto a Espanha engajava-se individualmente numa guerra contra a Tunísia e a Argélia, em 1541 as hostes do Crescente investiam novamente contra Viena. Em junho de 1552 tomavam elas parte da Transilvânia, onde os cristãos perderam em três batalhas 25 mil homens. No ano seguinte o sultão alia-se ao Rei Cristianíssimo, Henrique III da França, para a conquista da Córsega, domínio do rei da Espanha, Imperador Carlos V.

Nesse ínterim os bravos cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém, que haviam perdido Rhodes mas não queriam abandonar a luta contra o Crescente, transferiram-se para a Ilha de Malta, ao sul da Sicília. De sua nova fortaleza faziam incursões marítimas, que representavam um grande entrave à expansão turca, pois esses "escorpiões do Mediterrâneo" — como os chamavam com ódio os infiéis — atacavam toda e qualquer embarcação inimiga, incorporando à própria frota as naus que apresavam. As riquezas que estas estivessem transportando eram confiscadas para o Comum Tesouro da Ordem, e os prisioneiros postos a remar nas galés. Em 1565 Solimão II enviou uma poderosa armada contra a ilha, mas os monges-cavaleiros resistiram com tal denodo, que o sultão teve que retirar-se, perdendo na empresa um de seus melhores generais, Dragut Rais, e mais de trinta mil homens.

Apesar desta derrota, o poderio turco atingia o seu auge. Dispondo de um exército numeroso e aguerrido, cuja sanha anticatólica era liderada por um corpo de renegados, os janízaros, gozavam de uma situação econômica florescente. Solimão o Magnífico reinava sobre um império imenso, que se estendia de Belgrado a Aden, de Bagdad à Argélia. Ansiava conquistar a Itália para aniquilar o Papado, fundamento da Religião inimiga, e o projeto já não parecia uma quimera. De resto, a atitude omissa do Imperador Maximiliano e as perpétuas querelas entre as nações católicas mais poderosas — a Espanha, a França e Veneza — só podiam augurar bom termo ao avassalador avanço turco.

São Pio V convida os príncipes a unirem suas forças
 
Pio V, o dominicano que havia sido Grande Inquisidor, era como um raio de luz da Idade Média a fulgurar sobre aquela Europa imersa nas sombras da heresia protestante e do neopaganismo humanista. Escrevia o grande São Carlos Borromeu ao Rei de Portugal, a respeito do recente conclave: "Desde que o conheci, julguei que a Cristandade não podia ser melhor governada que por ele, e consagrei-lhe todos os meus esforços". E o Rei da Espanha, Filipe II, expressa seus sentimentos em carta ao Arcebispo de Sevilha: "Dou graças infinitas a Deus por esta eleição. Ele se dignou dar-nos um Pontífice de uma vida tão exemplar, que disso se pode esperar um grande bem para a conservação de nossa santa Fé". Devoto insigne da Virgem, penetrado de zelo pela causa de Deus, ardia na alma do novo Pontífice o desejo de soerguer a Cristandade para um duplo combate: contra o protestantismo e contra o adversário otomano.

No próprio ano de sua elevação ao pontificado, comunicou ele ao Rei da Espanha e ao Imperador seu intento de promover uma aliança dos príncipes contra o sultão. Em março, escreveu vigorosa carta ao Grão-Mestre da Ordem de São João de Jerusalém, Jean de La Valette, que tencionava abandonar a Ilha de Malta com seus cavaleiros, por lhe parecer impossível continuar enfrentando a ameaça dos turcos, que derrotara gloriosamente no ano anterior. Depois de enaltecer o heroísmo de que o Grão-Mestre dera mostras naquela ocasião, o Papa censura e repele o seu projeto de retirada e o exorta paternalmente: "Ponde de lado a idéia de abandonar a ilha. Permanecei aí com vossa Ordem bem unida. Vossa simples presença em Malta inflamará a coragem dos cristãos e imporá respeito ao otomano, pelo terror do nome que o fulminou no ano passado. Sabei que ele teme vossa pessoa, mais que todos os vossos soldados reunidos". La Valette leu a carta do Papa diante do Conselho da Ordem, beijou respeitosamente o documento pontifício, e depois o solo da ilha, e exclamou: "A voz de vosso Vigário, ó Jesus, indica o meu dever. Ficaremos aqui, e aqui morreremos".

No mês de maio desse ano, cai mais uma ilha do arquipélago jônico, Quios, e em setembro a cidade de Szigethvar, na Hungria. De todos os lados afluem notícias da aproximação de forças turcas: de Tarento, de Corfu, de Veneza...

Em Roma, São Pio V vigia e procura obter todas as informações possíveis sobre a marcha dos acontecimentos. Chega-lhe então a boa nova de que Solimão II morrera enquanto era travada a batalha de Szigethvar, e que deixara o trono para seu filho Selim II, mole, sensual e sem a fibra do pai.
Animado pelo desaparecimento de um inimigo tão temível como fora Solimão, nem por isso São Pio V se deixa levar pela idéia de que todo o risco era passado. Em março, publicara uma bula na qual descrevia com palavras cheias de dor o perigo turco e afirmava que somente com muita penitência poderia o povo fiel aplacar a ira de Deus e esperar seu poderoso auxílio. No mês seguinte, encarecia a necessidade de o clero ter costumes puros, pois ao armar-se a Cristandade contra o Crescente, só lhe podiam valer as preces dos ministros de Deus que levassem uma vida sem mácula. Em julho era publicado um Jubileu extraordinário pelo bom êxito da guerra contra os turcos, e pôde-se ver o próprio Sumo Pontífice participando de uma procissão rogatória para afastar a ameaça que pesava sobre a Europa.

Em dezembro, o Papa dirige às nações católicas novo brado de alarma e o convite a se unirem numa liga em defesa da Cristandade. Mas ninguém quer ouvi-lo. Veneza, por suas desconfianças para com os Habsburgos e por seus interesses econômicos, preferia conservar-se numa perigosa e dispendiosa neutralidade armada, mantendo relações pacíficas com os turcos. Filipe II mostra-se também pouco inclinado a formar uma coligação, alegando que necessitava de todas as suas forças para enfrentar a revolta dos protestantes nos Países Baixos. O Imperador Maximiliano II pensava antes de mais nada em socorrer a Hungria. O Rei de Portugal igualmente se omitia. Na França estalavam as guerras de religião, e pouco se podia esperar das intrigas da Rainha-Mãe.

O projeto da Liga ficou estacionário por três anos, durante os quais o Papa procurava ajudar o Imperador contra os turcos na Hungria, buscava socorro para a Ordem de Malta e erguia fortificações nas costas dos Estados Pontifícios.

Ameaçada pelo sultão, Veneza aceita a idéia da Liga
 
Um fato inesperado veio precipitar os acontecimentos e quebrar a atonia dos príncipes católicos em face dos apelos do Papa.

Em fins de 1569 chegava a Constantinopla a notícia de que o arsenal veneziano fora destruído pelo golfo, e devido a uma má colheita a Península toda estava ameaçada pela fome. Essas informações vinham com cores exageradamente fortes, fazendo crer que Veneza estava reduzida à impotência. Diante disso, Selim II decidiu romper a paz antes ajustada com a Sereníssima República e enviar-lhe na primavera um ultimato: ou Veneza entregava uma de suas possessões preferidas, Chipre, ou era a guerra.

A República de São Marcos, que ao longo dos últimos trinta anos mantivera relações amistosas com a Sublime Porta, compreendeu que, pelo menos a bem de seus interesses, era preciso não alimentar mais ilusões, e urgia buscar o auxílio das outras potências católicas.

Não podia ela contar com a Alemanha nem com a França, empenhadas em aquietar graves turbulências internas. Restavam a Espanha e a Santa Sé. Da parte do Papa, a acolhida foi benévola. Quanto à Espanha, então a maior potência do continente — cujos vice-reis governavam Nápoles, a Sicília, a Sardenha e Milão, e de quem dependiam ainda Gênova, a Sabóia e a Toscana — não eram das melhores as suas relações com os venezianos.

Para o Pontífice Romano, cujos olhos nunca se haviam desviado do plano de uma confederação anti-otomana, as circunstâncias pareciam tornar-se favoráveis para uma aproximação entre as duas potências católicas. Os primeiros passos dados nesse sentido pelo Núncio Apostólico em Veneza não encontraram, porém, ambiente receptivo. A Senhoria queria apenas a mediação do Papa junto aos demais Estados, para obter dinheiro, mantimentos e tropas, e assim fortalecer-se a si mesma. Mas não desejava uma aliança com sua rival, a Espanha, que lhe acarretasse muitos compromissos.

Entretanto, poucas semanas mais tarde o Núncio Facchinetti informava o Papa de que Veneza, ante o inevitável da guerra, estava propensa a aceitar a idéia de uma coalizão das potências católicas. Poucos dias depois, um emissário turco apresentava-se à entrada de Veneza para transmitir o ultimato do Sultão. Conduzido por uma escolta, foi recebido em uma audiência de apenas um quarto de hora pelo Senado, que o despediu com "palavras frias e cheias de dignidade", contendo uma rotunda negativa: com esperança na justiça de Deus, a República defenderia pelas armas a Ilha de Chipre, da qual era legítima senhora.

Também a Espanha procura seus próprios interesses

 




























 A reação da Espanha ante o apelo de S. Pio V, para que entrasse na Liga contra os turcos, traduziu-se na atitude de seus dois embaixadores em Roma, os Cardeais Zuñiga e Granvela. Para aumentar o mais possível o preço da adesão de seu governo, os dois diplomatas valiam-se de rodeios e subterfúgios, dando a entender que Filipe II não pensava em aderir à Liga, e sobretudo não aprovava uma aliança com Veneza. 

No consistório reunido em fevereiro de 1570, os Cardeais, em sua maioria, concordaram com o Pontífice quanto à iminência da queda de Chipre se a Espanha não interviesse sem demora. O Cardeal Granvela contestou, pedindo que não precipitassem seu rei e a Igreja numa empresa incerta e perigosa. Acrescentou que a República de São Marcos não era digna de confiança e não merecia apoio imediato; que melhor seria esperar, para ver se ela entrava mesmo em guerra com os turcos; e que sempre seria tempo para uma ajuda da Espanha. Acreditava que Deus queria castigar Veneza e dar uma lição à sua soberba e egoísmo. A estas considerações opôs-se o Cardeal Commendone, o qual lembrou todos os serviços prestados por Veneza à Cristandade e à Santa Sé, e que, além do mais, não era somente ela que estava em jogo, mas a honra e o bem da Cristandade.
Terminado o consistório com a quase unanimidade de opinião dos cardeais quanto a este último ponto, São Pio V ofereceu ao Doge valioso auxílio pecuniário (representado pelo dízimo do clero veneziano) para a defesa de Chipre, e ao mesmo tempo deu um passo decisivo para mover Filipe II a fazer uma aliança com Veneza.

Tendo-lhe a Senhoria confiado a direção das negociações com Madri, o Papa escolheu para encaminhá-las um de seus melhores diplomatas, de origem espanhola ademais, o clérigo da Câmara Apostólica, Luiz de Torres. O enviado do Papa devia realçar junto a Sua Majestade Católica que nenhum monarca poderia enfrentar sozinho o Grão-Turco, e que se impunha a união de todos os príncipes católicos para derrubar o inimigo comum. Filipe II era conjurado, pela misericórdia de Deus, a enviar o quanto antes à Sicília uma esquadra poderosa, para proteger Malta e garantir a rota que levaria socorros à Ilha de Chipre. A Liga entre a Espanha e Veneza deveria ter caráter defensivo e ofensivo e ajustar-se para sempre, ou pelo menos por um prazo determinado.

Em meados de maio, Filipe II acedeu em outorgar poderes a Granvela, Pacheco e Zuñiga para as negociações desejadas por Pio V. O Papa chorou de alegria ao saber disso. Em junho, nomeou Marco Antonio Colonna — pessoa grata a Filipe II, a quem servira outrora, e também a Veneza — como chefe da esquadra auxiliar pontifícia. No dia 11 o Príncipe Colonna dirigiu-se solenemente ao Vaticano. Depois de ouvir a Missa do Espírito Santo na capela pontifícia, ajoelhou-se aos pés do Papa, para prestar-lhe juramento e receber de suas mãos o bastão de comando e a bandeira de seda vermelha, na qual se viam Jesus Crucificado, o Príncipe dos Apóstolos, o brasão de Pio V e o lema "In hoc signo vinces".

O Príncipe tomou a peito o chamado do Papa, e apesar de ter recebido o comando de apenas doze galeras (o máximo que comportavam os recursos do tesouro pontifício), entregou-se por inteiro à tarefa de equipar a pequena esquadra. Colonna encontrou na nobreza romana as melhores disposições para tomar parte em tão gloriosa empresa. Dirigiu-se logo depois para Veneza, passando por Loreto, onde encomendou sua pessoa e sua esquadra à proteção de Maria Santíssima, pois sabia que teria diante de si não poucas dificuldades.

Seis meses perdidos em negociações
 
No mês de julho chegava a Roma Miguel Soriano, representante da República de São Marcos, para entabular com a Espanha as negociações da Liga, sob a égide e mediação do Pontífice Romano. Começaram elas em julho, com um inflamado discurso em que o Papa exortava todos para a nova cruzada.
As difíceis tratativas prolongaram-se desmedidamente, trazendo à tona os jogos de interesses às vezes mesquinhos de ambas as partes. Ora os espanhóis demonstravam desconfiança para com as intenções de Veneza, e receavam uma "combinazione" desta com a Sublime Porta; ora eles mesmos queriam dobrar e até triplicar o preço dos cereais que iriam de Nápoles para Veneza; por seu lado, os venezianos diziam-se impossibilitados de contribuir com mais de uma quarta parte dos gastos da guerra, quando eram sobejamente conhecidas as possibilidades do tesouro da Senhoria...

Apesar de seu temperamento fogoso, São Pio V intervinha com uma paciência e cordura heróicas. Aqui ele conciliava, ali aparava arestas, acolá estimulava. A discussão sobre o número de embarcações a serem fornecidas pelas duas partes foi causa de novas discórdias. Chegou-se afinal à questão do comando supremo, que a Espanha chamava a si, mas Soriano, embaixador de Veneza, interveio para lembrar que o pavilhão veneziano exerceria maior força de atração nos mares orientais, especialmente para levar a sublevarem-se os povos cristãos oprimidos pelo Crescente. 


Foi nessa ocasião que o Cardeal Morone sugeriu para generalíssimo dos exércitos cristãos o nome do irmão bastardo de Filipe II, D. João d’Áustria, o qual se havia distinguido extraordinariamente na guerra contra os mouros no norte da África. Chegou-se enfim ao acordo de que o Papa tomaria a iniciativa de convocar outros príncipes, e especialmente o Imperador; que nenhum dos confederados poderia ajustar a paz; e que o Pontífice deveria ser o supremo juiz nos litígios da Liga.

Fez-se então um esboço dos itens do acordo. Enquanto isso os espanhóis consultavam seu Rei sobre se as três esquadras — espanhola, pontifícia e veneziana — deviam ser unificadas num só corpo. Em fins de julho Veneza aceitava D. João como generalíssimo, e dias depois era apresentado ao Pontífice o projeto da Liga.

A perda de tempo com as reivindicações de vantagens e com as disputas sobre pontos de vista divergentes já se fazia sentir. Enquanto a peste dizimava a esquadra veneziana, em setembro os turcos atacavam a Ilha de Chipre e sitiavam Nicósia, a qual caía depois de 48 dias de resistência heróica.

O desânimo começava a espalhar-se pela Cristandade. Quando Granvela chegou a dizer ao Papa que os turcos eram excessivamente fortes, e que talvez só pudessem ser vencidos se atacados em diversas frentes, incluindo a África, a Albânia e a Hungria, São Pio V, tomado de forte emoção e com lágrimas nos olhos, retrucou-lhe que a culpa disso era dos príncipes católicos, os quais deviam arrepender-se de sua atitude antes que fosse tarde demais, e só expiariam sua falta se se resolvessem afinal a unir-se na defesa da causa da Cristandade. Falou ainda de São Ladislau e de Scanderbeg, na Polônia e na Albânia, como exemplos da força dos que põem sua confiança na poderosa justiça do Altíssimo. Que se armassem e se unissem, pois Deus os ajudaria: sua causa era a de Deus.

No fim do ano o Papa resolveu escrever uma carta de próprio punho a Filipe II. Nela o Pontífice traduzia suas mais amargas queixas. Dizia que, depois que se tinha conseguido contornar as últimas dificuldades com os venezianos, eram os comissários espanhóis que procuravam entravar a conclusão da aliança. Qualificava essa atitude de estranha e suspeita. Tendo intimado o Núncio de Madrid — o qual devia entregar a missiva — a não aceitar evasivas do Rei, Pio V aguardou com sublime paciência a resposta. Enquanto isso, chegavam as piores notícias: Os turcos sitiavam Famagusta, ameaçavam Corfu e Ragusa; o Núncio em Veneza, Facchinetti, anunciava em fevereiro de 1571 que, se não se ultimasse imediatamente a Liga, havia perigo de que a Senhoria ajustasse as pazes com a Sublime Porta, ainda que à custa da perda de Chipre.

"Qui seminant in lacrimis, in exsultatione metent"
 
"Quem semeia nas lágrimas, colhe na alegria" — diz o Salmo do real Profeta (Sl.125,5). Os sofrimentos morais do Santo Padre iriam encontrar o consolo merecido.

Em março chegaram, com diferença de dias, as respostas do Rei da Espanha e do Doge de Veneza. Havia ainda algumas graves discordâncias, mas um último esforço dos auxiliares do Papa superou-as. Afinal, em meados de maio, do rigoroso segredo em que se desenvolviam as tratativas emergiu a boa nova: estava concluída a Santa Liga. A aliança ajustada entre o Papa, o Rei da Espanha e a República de Veneza devia ser estável, ter caráter ofensivo e defensivo e dirigir-se não somente contra o sultão, mas também contra seus Estados tributários: Argel, Túnis e Trípoli.

A tríplice aliança contaria com duzentas galeras, cem transportes, 50 mil infantes espanhóis, italianos e
alemães, 4.500 cavalos ligeiros e o número de canhões necessário. Em cada outono se celebraria um convênio em Roma, sobre a campanha do ano seguinte. Espanha e Veneza deviam defender-se mutuamente em caso de ataque. O Papa arcaria com uma sexta parte dos gastos, a Espanha com três sextos, e Veneza com o restante. O generalíssimo D. João d’Áustria aconselhar-se-ia com os comandantes das tropas venezianas e pontifícias, e nas deliberações decidiria a maioria dos votos. O lugar-tenente de D. João seria o Príncipe Colonna. Era facultado ao Imperador e aos demais príncipes católicos ingressar na Liga.
O Sumo Pontífice transbordava de santa alegria. Publicou um Jubileu geral, para atrair as bênçãos do Deus das batalhas sobre o exército cristão. Tomou parte nas procissões rogatórias, que se realizaram ainda no mês de maio em Roma, e mandou cunhar uma medalha comemorativa.

Por tua mão será abatida a soberba do inimigo
 
Tratava-se agora de acelerar os preparativos da tríplice armada, acertar o ponto de encontro e os planos da batalha. Ao mesmo tempo o incansável São Pio V enviou legados ao Imperador e aos outros príncipes, a fim de instá-los a ingressarem na Liga.

Além disso, nomeara ele uma Congregação cardinalícia especialmente incumbida das providências da guerra. Um documento da época relata que naqueles dias só se viam soldados nas ruas da Cidade Eterna.
Em meados de junho a esquadra pontifícia fazia-se à vela para o sul, ancorando em Nápoles, onde devia encontrar-se com as naus espanholas. Já no mês anterior o Papa havia escrito uma carta a Filipe II, pedindo-lhe para apressar a partida de D. João, a fim de não se perder a boa ocasião.

Como os espanhóis tardassem para adiantar a empresa, os navios do Papa zarparam novamente em julho rumo a Messina, ponto convencionado para o encontro das três armadas. Poucos dias depois chegavam os venezianos, comandados pelo valoroso veterano Sebastião Veniero. Enquanto isso, vinham notícias de que o inimigo acuava Creta, Citera, Zanta e Cefalônia.

Como entre a nobreza de Roma, também entre os fidalgos da Espanha reinava vivo entusiasmo pela Cruzada, tendo-se alistado numerosos deles. Zarpando de Barcelona com 46 galeras, Dom João d’Áustria chegou a Gênova em meados de julho. Dali enviou um emissário a Veneza, a fim de comunicar que já estava a caminho de Messina, e outro ao Papa (o Rei Filipe II negara-lhe a permissão de passar por Roma), para agradecer a escolha para o posto de generalíssimo e escusar-se do atraso. Quando o representante do príncipe espanhol se despediu do Pontífice, este encarregou-o de dizer a D. João que se lembrasse sempre de que ia combater pela Fé católica, e de que por isso Deus lhe daria a vitória. Ao mesmo tempo o Papa enviou ao generalíssimo o estandarte da Liga.

O estandarte era de damasco de seda azul e ostentava a imagem do Crucificado, tendo aos pés as armas do Papa, da Espanha, de Veneza e de D. João. O Príncipe recebeu-o solenemente em Nápoles das mãos do Vice-Rei, o Cardeal Granvela, na Igreja de Santa Clara, com a presença de muitos nobres, entre os quais os príncipes de Parma e de Urbino. "Toma, ditoso Príncipe — disse-lhe o Cardeal — a insígnia do verdadeiro Verbo humanado. Toma o sinal vivo da santa Fé, da qual és o defensor nesta empresa. Ele te dará uma vitória gloriosa sobre o ímpio inimigo, e por tua mão será abatida sua soberba. Amém!" Um forte clamor ecoou da multidão que enchia a nave: "Amém! Amém!"

Vivamente angustiado ante as notícias do avanço turco, São Pio V mandou no dia 17 uma carta de próprio punho ao generalíssimo, exortando-o a sair sem demora ao encontro do inimigo. D. João zarpou então para Messina, onde foi recebido com júbilo indizível.

De uma formosura varonil, louro e de olhos azuis, no esplendor da juventude — tinha 24 anos de idade — profundamente aristocrático, o filho de Carlos V causou enorme impressão nos sicilianos que o estavam recepcionando. O porto, juncado de naus cristãs, assemelhava-se a uma floresta de mastros que balouçavam serenamente sobre o mar, à espera do momento em que deveriam singrar águas tintas de sangue. Era uma terrível ameaça para o inimigo e um irresistível chamado para aqueles novos cruzados.

Os soldados preparam-se por três dias de jejum
 
Nos primeiros conselhos de guerra, D. João empenhou-se em comunicar seu ardor aos setenta oficiais ali reunidos e em beneficiar-se, em troca, de sua prudência e maturidade. Mesmo aí, não deixou de haver alguns desentendimentos, que fizeram perder mais três semanas em deliberações.

Alguns generais achavam que a campanha iria ser meramente defensiva, dado o poderio do inimigo. Outros afirmavam que as naus turcas não eram muito eficientes. O próprio D. João mostrou-se hesitante, até que o Núncio Odescalchi, que viera distribuir partículas do Santo Lenho para que houvesse uma partícula em cada nau, comunicou ao Príncipe que o Pontífice lhe prometia em nome de Deus a vitória, por cima de todos os cálculos humanos. Mandava dizer que, se a esquadra se deixasse derrotar, iria ele mesmo à guerra, com seus cabelos brancos, para vergonha dos jovens indolentes.

D. João tomou uma série de medidas para preservar o caráter sacral da expedição. Proibiu a presença de mulheres a bordo e cominou pena de morte para as blasfêmias. Enquanto se esperava o regresso de uma esquadrilha de reconhecimento, todos jejuaram três dias, e nenhum dos 81 mil marinheiros e soldados deixou de confessar-se e comungar, o mesmo fazendo os condenados que remavam nas galeras. Jesuítas, franciscanos, capuchinhos, dominicanos, iam e vinham no meio daquela gente rude, para purificar os corações e preparar um exército verdadeiramente de cruzados.

Nos dias 16 e 17 de setembro, nos quais se deu a partida de Messina, o espetáculo foi deslumbrante. As naus começaram a mover-se duas a duas, encimadas por bandeiras cujas cores as distinguiam segundo a posição que assumiriam na batalha. À frente tremulavam as bandeiras verdes de Andrea Doria, o comandante dos espanhóis. Em seguida vinha a batalha ou centro, com suas bandeiras azuis, e o gonfalão de Nossa Senhora de Guadalupe sobre a nau de D. João d’Áustria. Os estandartes do Papa e da Liga ficaram guardados para o momento do embate. À direita da batalha vinha Marco Antonio Colonna na nau capitânia do Papa; à esquerda, o veneziano Sebastião Veniero, grande conhecedor das lides do mar, vigoroso com seus setenta anos, altivamente em pé na popa de sua nau.

A divisão de Veneza, comandada pelo nobre Barbarigo, seguia atrás, com bandeiras amarelas; as bandeiras brancas de D. Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz, fechavam aquele imponente cortejo naval. Uma figura toda vestida de púrpura destacava-se de entre a multidão reunida no porto. Era o Núncio papal, que dava a bênção a cada barco que passava, com seus cruzados piedosamente ajoelhados na ponte: nobres revestidos de armaduras refulgentes, soldados de variados uniformes, marinheiros de roupas e gorros vermelhos. Os remos compassados e as velas que se iam enfunando levavam-nos em demanda do inimigo da Fé. Na sua armadura dourada, terrível como um anjo vingador, avultava a figura de D. João d’Áustria, a quem o próprio São Pio V aplicaria depois da vitória o que o Evangelho diz de São João Batista: "Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Ioannes" — Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João (Jo. 1,6).

O estandarte da Liga é içado na nau capitânia

 










Deixando o estreito de Messina, as naus da Liga costearam o litoral da Calábria e da Apúlia, e de lá seguiram para a ilha de Corfu, depois para Gomenitsa, nas costas da Albânia, onde aportaram no último dia do mês de setembro.

Ao longo desse percurso foram encontrando sinais da passagem dos turcos: restos carbonizados de igrejas e casas, objetos de culto profanados, corpos dilacerados de sacerdotes, mulheres e crianças covardemente assassinadas. A inconformidade com o crime e o desejo de uma santa vingança faziam-se sentir no coração de todos os cruzados e revigoravam neles a vontade de lutar.

Nesse meio tempo os espias informaram que a esquadra inimiga estava ancorada em Lepanto, um porto localizado pouco mais ao sul, no estreito de igual nome, o qual liga o Golfo de Patras ao de Corinto. Tratava-se agora de tomar a iniciativa da luta, indo ao encalço do inimigo.

Feitos todos os preparativos para a batalha, no dia 6 de outubro os navios da Liga deixaram a costa da Albânia em direção a Cefalônia, ilha do Arquipélago Jônico situada defronte ao Golfo de Patras, ao fundo do qual se achavam os navios turcos. Foi aí que os católicos receberam a notícia de que Famagusta, capital de Chipre, caíra em poder do Crescente, e que o general Mustafá cometera as piores atrocidades com o comandante da praça, Marco Antonio Bragadino, a quem mandara esfolar vivo, e cuja pele cheia de palha fizera conduzir por toda a cidade. A narração dessas crueldades acendeu o ódio da tropa cristã, que ansiava por defrontar-se com os otomanos.

O embate já então era iminente, dada a proximidade em que se encontravam os dois exércitos. O vento soprava do Levante, o céu estava encoberto e o mar era cinzento e cheio de névoa naquele sexto dia do mês. Os católicos não sabiam que o vento que os detinha era o mesmo que convidava o inimigo a deixar seu refúgio em Lepanto, e assim tornava possível a batalha. Com efeito, se os turcos não se resolvessem a sair, seria muito difícil desalojá-los de seu reduto. O estreito de Lepanto era protegido por duas fortalezas, cujos canhões fariam grande estrago à armada da Liga. A noite caiu, envolta em um silêncio misteriosamente cheio de prenúncios.

Às duas horas da madrugada do domingo, 7 de outubro, um vento fresco vindo do poente limpou completamente o céu, prometendo um dia ensolarado. Antes do amanhecer, D. João mandou levantar âncoras e soltar as velas. Quando as naus cristãs, tendo passado pelo canal que ficava entre a ilha de Oxia e o cabo Scrofa, desembocavam no golfo de Patras, uma fragata ligeira mandada em reconhecimento veio ao seu encontro, com a informação de que a esquadra turca estava a poucas milhas de distância. A bandeira que devia sinalizar a presença do inimigo tremulou no mastro da capitânia vanguarda. Depois de uma rápida deliberação com Veniero, o generalíssimo ordenou que todos se dispusessem em ordem de batalha. Fez-se ouvir o troar de um canhão, enquanto era içado o estandarte da Santa Liga no mastro mais alto da galera capitânia.

"Aqui venceremos ou morreremos" — bradou D. João entusiasmado, ao acompanhar as evoluções da esquadra católica.

Seis pesadas galeras venezianas, comandadas por Francisco Duodo, rumaram lentamente para seus postos, na vanguarda. Como que no desejo de esmagar os otomanos num terrível amplexo, a esquadra católica procurou estender-se o quanto pôde, desde o litoral até o alto mar. À esquerda o veneziano Barbarigo, com 64 galeras, alargou seu flanco em direção ao litoral, para evitar um envolvimento dos inimigos pelo norte. Dom João comandava o centro, ladeado por Colonna e Veniero; o catalão Requeséns vinha um pouco mais atrás. A esquadra espanhola de Andrea Doria, com 60 naus, formava a ala direita, em direção ao mar alto. As 35 embarcações do Marquês de Santa Cruz aguardavam ordens à retaguarda, para uma eventual intervenção.

Também o almirante otomano — Kapudan-Pachá Muesinsade Ali, que passou à História como Ali-Pachá — dispôs sua esquadra para o combate. A ala direita, que devia defrontar-se com Barbarigo, compunha-se de 55 galeras e era comandada por Maomé Shaulak, governador de Alexandria; a ala esquerda, à qual cabia opor-se a Andrea Doria, era formada por 73 unidades às ordens do temível corsário Uluch Ali (Occhiali), um renegado calabrês que, segundo se dizia, fora frade; o centro, finalmente, com 96 galeras, estava sob o mando direto do próprio Ali-Pachá e constituía a elite da armada infiel. Uma divisão de reserva ficara à retaguarda.

O generalíssimo turco parecia querer investir resolutamente pelo centro, e ao mesmo tempo envolver os cristãos, aproveitando-se da sua superioridade numérica sobre estes (286 naus contra 208). O vento soprava de leste, favorável aos infiéis, enquanto os católicos tinham que se mover à força de remos. Decorreram quatro horas até que as duas armadas estivessem prontas para o confronto. O vento amainara.
A essa altura, Doria chegava à nau de D. João d’Áustria para propor um conselho de guerra, no qual se discutisse se convinha ou não dar combate a um inimigo numericamente superior. O generalíssimo limitou-se a responder-lhe: "Não é mais hora de falar, mas de lutar!" Doria voltou ao seu posto, tendo antes proposto a D. João que mandasse cortar o enorme esporão que pesava na proa das galeras. A vantagem desta medida, indicada pelo astuto genovês, revelou-se enorme: aliviou as naus, facilitando as manobras, e ademais permitiu que o canhão central, em vez de atirar por cima, visasse diretamente o alvo, com maior impacto.































D. João quis passar uma última revista a suas tropas. Subiu a uma fragata e percorreu o corpo central e a ala direita da esquadra. Dom Luiz de Requeséns foi incumbido de visitar a outra ala. O comandante supremo apresentou-se aos nobres e à tripulação de cada nau, levando na mão um crucifixo e conclamando com ardor para o lance iminente: "Este é o dia em que a Cristandade deve mostrar seu poder, para aniquilar esta seita maldita e obter uma vitória sem precedentes". E mais adiante: "É pela vontade de Deus que viestes todos até aqui, para castigar o furor e a maldade destes cães bárbaros. Todos cuidem de cumprir seu dever. Ponde vossa esperança unicamente no Deus dos Exércitos, que rege e governa o universo". A outros, dizia: "Lembrai-vos de que combateis pela Fé; nenhum poltrão ganhará o Céu".
A resposta a essas palavras eram aclamações estrepitosas, e não havia quem não se mostrasse ao jovem general em atitude ufana e combativa. Enquanto isso, ele fazia distribuir escapulários, medalhas e rosários. O entusiasmo levou a tropa a tomar-lhe o chapéu e as luvas; por fim D. João voltou à sua capitânia, a fim de armar-se para o combate.

Ouvia-se do lado do inimigo um som fanhoso de cornetas, um crescendo de vociferações, o estrépito de címbalos e o sinistro percutir das cimitarras sobre os escudos. Os infiéis entretinham-se com danças, acompanhadas pelo crepitar de armas de fogo. Escachoam as gargalhadas, e a soldadesca escarnece da presunção dos que ousavam enfrentar o poderio imenso do sultão: "Esses cristãos vieram como um rebanho, para que os degolemos!" A ordem dada por Ali-Pachá era não fazer prisioneiros.

Reaparece D. João. Sua armadura e seu elmo brilham ao sol, que agora está a pino, sem nenhuma nuvem a toldar o céu. O Príncipe ajoelha-se e reza. Todos os seus homens fazem o mesmo. No meio de um silêncio grandioso, os religiosos davam a última bênção e a absolvição geral aos que iam expor-se à morte pela Fé. Do lado inimigo também tudo se aquietara. Anjos e demônios pareciam fazer sentir sua presença e a transcendência do fato que ia ocorrer.

A cabeça de Ali-Pachá na ponta de uma lança
 
As esquadras se aproximam. No momento azado, Ali-Pachá manda dar um tiro de canhão para chamar os cristãos à luta. Dom João d’Áustria aceita o desafio, respondendo com outro tiro. O vento mudara inesperadamente. Os estandartes do Crucificado e da Virgem de Guadalupe investem contra as bandeiras vermelhas de Maomé, marcadas com a meia-lua, estrelas e o nome de Alá bordado a ouro. Nesse momento o Céu já enviara um augúrio da vitória: o primeiro tiro que partira contra os infiéis lhes afundara uma galera. Aos gritos de "Vitória! Vitória! Viva Cristo!", os cruzados lançaram-se com toda a energia na batalha.














Os turcos procuravam dar a maior amplitude a seu deslocamento, para envolver um dos flancos do adversário. Doria tenta impedir-lhes a manobra, mas afasta-se demais da zona que lhe havia sido designada, abrindo um perigoso vão entre a ala sob seu comando e o centro da esquadra cristã.

Os 264 canhões de Duodo, abrindo fogo, conseguem romper a linha inimiga. Começam as abordagens.
O apóstata italiano Uluch Ali entra pelo vazio deixado por Doria. Com suas melhores naves, lança-se no combate em que o centro dos cristãos estava engajado, e com algumas galeras pesadas mantém Doria afastado. Neste lance iam sendo aniquiladas as tropas de Doria, e a reserva do Marquês de Santa Cruz não podia socorrê-las, pois estava empenhada em auxiliar os venezianos da ala esquerda, junto ao litoral.

Ali-Pachá, reconhecendo pelos estandartes a galera de D. João, abalroou-a com seu próprio navio, proa contra proa, e lançou sobre ela toda uma tropa de janízaros escolhidos. Neste momento o conselho de Doria provou sua eficácia: desembaraçada do esporão, a artilharia da nau católica pôs-se a dizimar a tripulação da "Sultana", a nave de Ali-Pachá. Em socorro desta acorreram mais sete galeras turcas, que despejaram mais janízaros sobre a ponte ensangüentada da capitânia de D. João. Duas vezes a horda turca penetrou nesta até o mastro principal, mas os bravos veteranos espanhóis obrigaram-na a recuar. Dom João contava agora com apenas dois barcos de reserva, sua tropa tinha sofrido muitas baixas, e ele mesmo fora ferido no pé. A situação ia-se tornando cada vez mais perigosa, quando o Marquês de Santa Cruz, tendo liberado os venezianos, veio em socorro do generalíssimo e este pôde repelir os janízaros.

A batalha chegara ao seu auge. As águas tingiam-se de sangue, ressoavam gritos e gemidos dos que lutavam, dos feridos, mutilados e agonizantes. O estrondo das armas de fogo entrecruzava-se com o tinir das lâminas de aço, num concerto trágico e grandioso. Sucediam-se umas às outras as proezas. O sangue nobre corria. Um após outro caíram Juan de Córdoba, Fábio Graziani, Juan Ponce de León. O velho Veniero lutava de espada na mão, à frente de seus soldados. O general veneziano Barbarigo tombara ferido por uma flecha no olho, quando, para dar ordens a seus homens, afastara o escudo que o protegia. "É um risco menor do que o de não conseguir fazer-me entender numa hora destas!" — respondera a alguém que o advertia do perigo. O jovem Alexandre Farnese, Duque de Parma, entrou sozinho numa galera turca, e não morreu. De sua parte, o inimigo tentava toda espécie de manobras e dava inegáveis provas de valor.
O momento era crítico, e ainda deixava muitas dúvidas quanto ao desenlace da batalha, quando Ali-Pachá, defendendo a "Sultana" de mais uma investida cristã, caiu morto por uma bala de arcabuz espanhol (ou suicidou-se, segundo outra versão). Eram 4 horas da tarde.

O corpo do generalíssimo dos infiéis foi arrastado até os pés de D. João. Um soldado espanhol avançou sobre ele e cortou-lhe a cabeça. Esta, por ordem do Príncipe, foi então erguida na ponta de uma lança, para que todos a vissem. Um clamor de alegria vitoriosa levantou-se da capitânia católica. Os turcos estavam derrotados, e o pânico espalhou-se celeremente entre suas hostes, a partir do momento em que o estandarte de Cristo começou a drapejar sobre a "Sultana".

Uluch Ali ainda investiu sobre a ala direita comandada por Andrea Doria. Mas, atacado pelo Marquês de Santa Cruz, tratou de fugir.

O veneziano Girolamo Duodo conta que "uma grande parte dos escravos cristãos, que se encontravam nos navios inimigos, compreendeu que os turcos estavam perdidos. Apesar dos guardas, esses infelizes multiplicaram seus esforços para buscar a salvação na fuga e favorecer a vitória dos nossos. Em pouco tempo, ei-los combatendo em todos os setores onde há guerra, com uma coragem sem igual. Seu ardor é decuplicado pelos gritos que ecoam de todos os lados: "A vitória é nossa!". Nos navios da Liga, os galés — que tinham sido armados de espada — abandonavam os remos quando havia abordagem e lutavam valentemente contra os turcos.

Uma Senhora de aspecto majestoso e ameaçador

Os restos da esquadra inimiga batem em retirada e se dispersam, enquanto as trombetas católicas proclamam a todos os ventos a vitória da Santa Liga, na maior batalha naval que a História jamais registrara.

A tarde começava a cair e prometia um mar agitado. No crepúsculo daquele santo dia, os navios da Liga se reagrupavam e mal podiam navegar através dos restos da batalha: cadáveres, remos e mastros espalhados bizarramente pela água. As embarcações apresadas vinham à retaguarda das galeras católicas, arrastadas humilhantemente pela popa.

As perdas dos infiéis tinham sido enormes: 30 a 40 mil mortos, 8 ou 10 mil prisioneiros (entre os quais dois filhos de Ali-Pachá e quarenta outros membros das famílias principais do império), 120 galeras apresadas e cinqüenta postas a pique ou incendiadas, numerosas bandeiras e grande parte da artilharia em poder dos vencedores. Doze mil cristãos escravizados alcançaram a liberdade. A Liga perdeu doze galeras e teve menos de 8 mil mortos.

Soube-se depois que, no maior fragor da batalha, os soldados de Mafoma tinham avistado acima dos mais altos mastros da esquadra católica uma Senhora, que os aterrava com seu aspecto majestoso e ameaçador.

É hora de dar graças a Jesus Cristo pela vitória

Bem longe dali, o Papa aguardava ansioso notícias da esquadra católica. Desde a chegada de D. João a Messina, redobrara de orações e jejuns pela vitória das armas cristãs, e instava para que monges, cardeais e fiéis rezassem e jejuassem na mesma intenção. Confiava sobretudo na eficácia do rosário, para obter o socorro onipotente da Virgem.

No dia 7 de outubro ele trabalhava com seu tesoureiro, Donato Cesi, o qual lhe expunha problemas financeiros. De repente, separou-se de seu interlocutor, abriu uma janela e entrou em êxtase. Logo depois voltou-se para o tesoureiro e disse-lhe: "Ide com Deus. Agora não é hora de negócios, mas sim de dar graças a Jesus Cristo, pois nossa esquadra acaba de vencer". E dirigiu-se à sua capela.

As notícias do desfecho da batalha chegaram a Roma, por vias humanas, duas semanas depois, por um correio que vinha de Veneza. Na noite de 21 para 22 de outubro o Cardeal Rusticucci acordou o Papa, para confirmar a visão que ele tinha tido. No meio de um pranto varonil, São Pio V repetiu as palavras do velho Simeão: "Nunc dimittis servum tuum, Domine, in pace" (Luc.2,29). No dia seguinte, a notícia foi dada em São Pedro, após uma procissão e um solene "Te Deum".

Soube-se depois que, no maior fragor da batalha, os soldados de Mafoma tinham avistado acima dos mais altos mastros da esquadra católica uma Senhora, que os aterrava com seu aspecto majestoso e ameaçador. 

















A vitória foi por todos atribuída à intervenção da Virgem. O dia 7 de outubro ficou consagrado a Nossa Senhora da Vitória, e mais tarde ao Santo Rosário. Além disso o Santo Padre acrescentou à Ladainha Lauretana uma invocação que nascera pela "vox populi", no momento da grande proeza: "Auxilium Christianorum". Na Espanha e na Itália começaram a surgir igrejas e capelas com a invocação de Nossa Senhora da Vitória. O senado veneziano pôs debaixo do quadro que representava a batalha a seguinte frase: "Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit" — Nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória. Gênova e outras cidades mandaram pintar em suas portas a efígie da Virgem do Rosário, e algumas puseram em seu escudo a imagem de Maria Santíssima calcando aos pés o Crescente. Poetas e músicos procuraram enaltecer com seu gênio o grande acontecimento.

Também ao Papa se prestaram as maiores homenagens, pela participação decisiva que tivera na luta e no seu desfecho.

Logo depois das solenes celebrações da vitória, o Pontífice recebeu os embaixadores e os cardeais para deliberar sobre a continuação e ampliação da Liga e o prosseguimento da guerra, de modo a se tirar todo o proveito da "maior vitória jamais obtida contra os infiéis". O plano de São Pio V era promover uma confederação européia e obter o concurso de certos régulos maometanos, rivais do sultão, para expulsar da Europa o Crescente, e afinal investir contra Constantinopla e retomar o Santo Sepulcro, aniquilando definitivamente o perigo muçulmano.

Mas, apesar de ingentes esforços, o Papa não conseguiu mover os príncipes católicos. A Liga se desfez. O Rei da França propôs ao sultão uma aliança contra a Espanha.

Chamando-o ao Céu em primeiro de maio de 1572, a Providência poupou a São Pio V o desgosto de ver que a vitória de Lepanto, depois de salvar a Cristandade, ficaria sem conseqüências estratégicas e políticas imediatas. Tanto maiores foram certamente os efeitos mediatos. A História é testemunha de que a lenta decadência do poderio naval dos otomanos começou com a jornada de Lepanto.

O último ato de governo do Santo Pontífice consistiu em entregar a seu tesoureiro um pequeno cofre com 13 mil escudos, dos quais costumava fazer suas esmolas particulares, dizendo-lhe: "Isto prestará bons serviços à guerra da Liga".

(Giovan Tinelli di Olivano, in "Catolicismo" nº 250, outubro de 1971)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A verdade sobre Galileu Galilei

Vejam neste resumido e esclarecedor vídeo o que aconteceu de fato acerca das relações de Galileu com a Igreja:
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Para quem quiser se aprofundar no tema:
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Veja mais detalhes interessantes em “Um mártir da Ciência“:
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A única penalidade que a Inquisição lhe impôs foi de uma benevolência quase obscena, que hoje soaria como favorecimento ilícito: ele foi condenado a rezar uma vez por semana, durante três anos, os sete salmos penitenciais, podendo fazê-lo em privado, isto é, sem nenhum controle da autoridade. A coisa inteira levava quinze minutos no máximo, e ele ainda não precisava submeter-se à penitência pessoalmente, podendo solicitar que suas duas filhas, ambas freiras, a fizessem em seu lugar. “Nisso consistiu o “martírio” do grande homem.
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Fonte: Seteiras Certeiras
 




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por que devo ter uma religião?


Por Pe Léo Trese
A Lei Natural
Se construo um relógio, tenho o direito de esperar que me diga que horas são; afinal, foi para isso que o fiz. Se fabrico uma lâmpada, tenho o direito de esperar que me dê luz, porque foi para isso que a fiz. Da mesma forma, Deus tem direito a esperar que o Universo que Ele criou cumpra a finalidade para a qual foi criado. Na verdade, tem o direito de esperar que cada uma das partes do Universo cumpra o fim para qual foi feita.
Com relação a todas as criaturas inferiores ao homem, era uma tarefa fácil para Deus assegurar que fariam o que Ele desejava que fizessem. Para as pedras, as plantas e os animais, estabeleceu o que chamamos “leis físicas”, leis que fazem com que as coisas se comportem sempre de tal maneira que cumpram sua finalidade, isto é, que se comportem de acordo com sua natureza. Assim, uma pedra “agirá”sempre como pedra, uma árvore como árvore, um pássaro como pássaro.
Para os seres inertes, existem leis como a da gravidade, as da ótica, as da termodinâmicas, as que regem a propagação das ondas sonoras, etc, e todas essas outras leis físicas que não admitem possibilidades de escolha; isto é, são leis a que a matéria tem de obedecer sempre. Para os seres vivos, tais como as plantas e os animais, acrescentam-se às leis físicas e químicas outras leis, como as que regem o crescimento e a reprodução; e os animais contam, além das anteriores, com a lei do instinto, que lhes permite fazer o que devem fazer em resposta aos estímulos que lhes vêm de fora, mas ainda sem disporem de opções ou de um verdadeiro raciocínio.
Mas o ser humano tinha de ser governado de maneira diferente.
Deus dotou-nos de livre-arbítrio, e portanto seria contraditório que Ele mesmo destruisse logo a seguir a nossa liberdade, impondo-nos umas leis que não admitissem escolha alguma, leis que nos forçassem a agir sempre de acordo com a sua vontade ou, o que é o mesmo, a agir sempre tal como um ser humano deveria agir. É verdade que o nosso corpo está submetido às leis físicas, tal como qualquer outro corpo material. Quando tropeçamos, a lei da gravidade leva-nos ao chão com a mesma velocidade com que levaria qualquer pedra. A nossa visão e audição tem de ajustar-se às leis da ótica e da acústica. As nossas células nutritivas e reprodutivas obedecem aos mesmos princípios que regem todas as criaturas inferiores.
Mas, quando desempenhamos o nosso papel de seres humanos, isto é, quando pomos em funcionamento as nossas atividades superiores, as atividades que exercemos como criaturas simultaneamente espirituais e materiais, entra em jogo um tipo diferente de lei. Tem de tratar-se de uma lei que respeite a nossa liberdade, ao mesmo tempo que nos obriga de alguma forma. Essa lei exige a nós – como, aliás, Deus em justiça exige de toda criação – que nos comportemos de acordo com a nossa natureza, isto é, tal como uns seres humanos dotados de alma espiritual devem comportar-se. Mas a obrigação que essa lei nos impõe não é uma necessidade física, e sim uma obrigação moral. Estamos, portanto, moralmente obrigados a agir tal como um ser humano deve agir, mas fisicamente livres para nos recusamos a agir assim.
Suponhamos que me veja diante da alternativa de roubar ou não roubar. A razão me diz que é essencial, para minha realização como ser humano, respeitar a propriedade alheia. O homem é um ser social, e está destinado a viver em companhia dos outros, já que, até certo ponto, todos dependemos uns dos outros. Não somos simples indivíduos isolados; somos membros de uma comunidade. Ora, o roubo destrói as próprias bases da convivência, da mútua dependência.
Portanto, o roubo contraria a minha própria natureza, como ser humano, opõe-se à finalidade para a qual Deus me criou. É por isso que a simples razão, mesmo deixando de lado tudo o que a religião ensina, é suficiente para mostrar-me que é errado roubar.
Talvez percebemos agora que a distinção entre o “certo”e o “errado”não depende simplesmente de umas quantas regras que Deus teria estabelecido arbitrariamente. O “certo”e o “errado”são realidades profundamente arraigadas na minha natureza de ser humano. Tal ou qual ato será bom, estará “certo”, na medida em que estiver de acordo com o fim para o qual Deus me criou, tal como um relógio “está certo”na medida em que informa corretamente a hora, e a lâmpada é “boa”na medida em que dá luz.
Talvez percebemos também que o perfeito uso da liberdade não consiste em escolher entre o que é bom e o que é mau, mas antes em escolher entre este ou aquele bem. Somos fisicamente livres de escolher o mal, mas, ao fazê-lo, não usamos propriamente da liberdade que Deus nos deu; antes, abusamos dela.
A responsabilidade que, em consequência, temos diante de Deus – uma responsabilidade que, comos vimos, deriva da própria natureza humana – é chamada Lei Natural. Qualquer homem em seu são juízo, se não estiver cegado pela paixão ou pelos preconceitos, sabe perfeitamente que determinadas atitudes são corretas e outras erradas. A sua razão, mesmo sem a ajuda de qualquer religião, diz-lhe que a propriedade alheia deve ser respeitada, os pais devem ser honrados, o cônjuge de outra pessoa deve ser respeitado, e Deus deve ser adorado. É isto o que queremos dizer quando falamos de Lei Natural.
Dar a Deus o que é de Deus
Só quero justiça!”: este é, invariavelmente, o comentário feito por que quer que apresente uma petição judicial ou uma queixa à polícia. Essa pessoa quer que sejam respeitados os seus direitos. Quer aquilo que lhe é devido!
Pois bem, também Deus quer que sejam respeitados os seus direitos, quer que lhe seja feita justiça. Foi Ele quem fez o Universo (incluindo-se nele o gênero humano) para que manifestasse a sua glória. É verdade que, como diz o Catecismo, “Deus nos fez para que sejamos felizes para sempre com Ele no céu”. Esta formulação, no entento, só nos apresenta essa verdade do nosso ponto de vista. Encontraremos, sem dúvida, a felicidade, mas a felicidade é um resultado, algo que deriva do cumprimento dos nossos deveres para com Deus. Se realizarmos a finalidade para a qual Ele nos fez, se decidirmos livremente desempenhar o papel que nos cabe dentro do concerto universal que canta a glória de Deus, a felicidade será um subproduto.
As estrelas e os planetas, o vento e as águas, as flores, os animais e as aves, todos esses seres manifestam necessariamente a glória de Deus, sem que lhes seja dada a possiblidade de escolher entre faze-lo ou não. Somente o ser humano é capaz de oferecer a Deus o maior de todos os louvores, o louvor que lhes damos por livre decisão da nossa parte , sem qualquer tipo de compulsão física.
Mesmo que Deus não nos tivesse enviado nenhuma mensagem especial, a nossa razão seria suficiente para repararmos que temos obrigação de dar a cada um o que lhe é devido. Em outras palavras, a própria Lei Natural nos ordena que pratiquemos a virtude que se encontra na raiz da religião.
É próprio da natureza humana reconhecer a excelência, amar tudo que é bom, obedecer à autoridade legítima, agradecer os favores recebidos. Da mesma forma, temos para com Deus uma dívida: devemos honrar Àquele que é infinitamente perfeito, amar Àquele que é infinitamente bom, obedecer Àquele que nos fez e a quem pertencemos, agradecer Àquele de quem vêm todos os bens. Ou, para dizê-lo com outras palavras, devemos adorar a Deus, devemos praticar a religião.
Mesmo que Deus em pessoa não tivesse vindo à terra, assumindo a natureza humana na pessoa de Jesus Cristo, a fim de nos instruir a respeito de si mesmo; mesmo que nunca tivesse enviado profetas a este mundo, ou inspirado as Sagradas Escrituras; mesmo que tivesse permanecido no mais completo silêncio acerca de Si próprio – mesmo assim, teríamos obrigação de adora-Lo, de praticar a religião.
O fato de a religião – o cumprimento os nossos deveres para com Deus – fazer parte da Lei Natural, de ser uma obrigação reconhecida pela simples razão humana, mesmo que não tivesse havido nenhuma Revelação divina é plenamente corrobado pelas pesquisas de antropologia. Essa ciência que se dedica a estudar os costumes e o comportamento humanos, mostrou e continua mostrar que todos os povos e todas as raças, em todas as épocas da história, praticaram alguma forma de religião.
A única exceção que se pôde descobrir foram umas poucas tribos selvagens isoladas que haviam degenarado a ponto de se tornarem quase desumanas, desprovidas até das mais rudimentares evidências da dignidade humana. Isto, diga-se de passagem, é a melhor resposta que podemos dar a esses pagãos modernos, segundo os quais a religião não passa de algo inventado pelo próprio homem em algum ponto da escala da evolução, uma forma de auto-ilusão pela qual o homem primitivo procurava explicar os fenômenos naturais que não compreendia e sentir segurança diante dos poderes desconhecidos e ameaçados que não podia dominar.
Como é evidente, mesmo os povos antigos , mais civilizados, como gregos ou os romanos, cometeram erros gritantes no que diz respeito à prática da religião. Se tivermos em conta a doutrina de pecado original, que obscureceu e enfraqueceu a inteligência humana, era de esperar que fosse assim. Por isso, é natural que esses povos tenham multiplicado os seus deuses, identificando-os às vezes com as forças da natureza, como o sol, a lua, a chuva ou o raio. No entanto, mesmo as formas mais idolátricas de religião preservaram uma crença mais ou menos vaga numa divindade superior ou suprema. É um poderoso testemunho em favor da força da Lei Natural o fato de ela ter sido capaz de impor-se mesmo através das névoas de um intelecto ferido pelo pecado.
Até agora, falamos unicamente daquilo que se constuma chamar “Religião natural”- isto é, da religião tal como o homem é capaz de conhece-la guiado unicamente pela luz da razão. Mas, com a queda de Adão, tornou quase impossível que os homens – a não ser algumas mentes excepcionais, como as de Platão e Aristóteles – descobrissem por si mesmos a verdade, Deus teve de entrar novamente em cena. Para evitar que nos afundássemos mais e mais no erro, decidiu ajudar-nos a conhecer, por Revelação, não somente aquelas verdades que, deveríamos ter descoberto naturalmente – por exemplo, a sua eternidade e a sua infinita perfeição -, como também muitas outras que nunca teríamos podido descobrir apenas por meio das nossas próprias forças – por exemplo, a existência de três Pessoas em Deus, ou o fato de estarmos destinados à união eterna com Deus. Estas e todas as outras verdades reveladas diretamente por Deus constituem aquilo que se costuma chamar”religião Sobrenatural”
Fonte: A sabedoria do Cristão

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Com a Eucaristia não se brinca

os fatos narrados aqui são antigos,mas são verdadeiros,coincidência??leia e tire suas conclusões.



Recentemente, poucos meses antes da Copa da África, o pimpolho da “bispa” Sônia, o evangélico jogador Kaká, resolveu desrespeitar a fé católica, chamando vergonhosamente a Eucaristia de “bolachinha”, desapontando assim muitos católicos que um dia admiraram seu futebol. Dizia o prosélito Kaká:
  “Para a galera que já tem Jesus: vocês fizeram a melhor escolha e estão no melhor time. Vão em frente. Não desistam. A luta é grande, mas a gente só tem a ganhar estando ao lado de Jesus. Para quem ainda não entregou sua vida para Jesus: Está fazendo o que fora desse time?! Venha aprender da Palavra de Deus, venha conhecer quem Deus é de verdade. Escute, porque é sobrenatural e Deus tem grandes coisas para nossa vida. Pare de ficar comendo bolachinha, enquanto Deus nos oferece um banquete... 
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fonte: http://www.ministeriovidajovem.com/testemunhos.php
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O Kaká é freqüentador da igreja Renascer, costuma receber pão fermentado e suco de uva que “significaria” Cristo, distribuídos pela bispa Sônia, quando a hóstia católica sacramentada e recusada por ele É de fato o Corpo de Cristo. O Kaká estava eufórico porque havia fechado um contrato milionário com o Real Madrid.
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Por outro lado dizia a sua querida esposa pastora:
"No meio da crise, quem tem dinheiro? Ninguém tem dinheiro...
o dinheiro do mundo tem que ficar em algum lugar..." e Deus pôs o dinheiro do mundo na mão do Real Madrid pra contratar o Kaká..."
 
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 Mas em pouco tempo, rápida resposta veio ao Kaká, certamente por aqueles insultos feitos á Eucaristia instituída pelo filho de Deus; e também à sua esposa, que viu em Deus um “mercenário”, um cartola, a serviço do Kaká.
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O Kaká que zombava da Eucaristia chamando-a de “bolachinha”, não a distinguindo como “Corpo de Cristo,” conforme o ensinamento apostólico, inesperadamente foi acometido de grave enfermidade no púbis e está ameaçado de ser afastado do futebol. http://esporte.ig.com.br/futebol/2010/08/02/pubis+de+kaka+preocupa+jose+mourinho+9553608.html
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Dizia São Paulo em I Coríntios 11, 29-30, a respeito dos que não distinguem o Corpo de Cristo como o Kaká:
“pois, quem come e bebe sem distinguir devidamente o corpo, come e bebe sua própria condenação. É por isso que há entre vós muitos enfermos e doentes, e não poucos têm morrido.
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Já a pastora esposa do Kaká, poucos meses depois de sua solene blasfêmia, viu o Real Madrid e a Seleção Brasileira onde jogava o marido serem derrotados. Após uma temporada de expulsão, de pouco futebol e muitas lesões, amarga agora a infeliz notícia que dá conta que: o Kaká vale hoje, pouco mais da metade dos 68 milhões de euros pagos pelo Real Madrid.
http://esporte.ig.com.br/futebol/2010/07/30/craques+brasileiros+amargam+desvalorizacao+no+futebol+europeu+9551455.html
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Disse Jesus, aos que associam o dinheiro mundano a Deus, como fez a esposa do Kaká:
“Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”. (Marcos, 12,17).
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será coincidência??Deus tenha piedade do Kaká.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

SOCORRO - Querem canonizar Pôncio Pilatos!

  Autor: Everton do N. Siqueira                     



Pilatos podia libertar Jesus mas não queria assumir essa responsabilidade e tentou, por diversas vezes, fazer algo que aqui no Brasil chamamos de "jeitinho brasileiro", ou seja, tentou resolver as coisas "na paz", ficando neutro ao episódio e agradando ambas as partes: primeiro enviou-o a Herodes, achando que este iria tomar uma atitude, mas logo Herodes "passou o bastão" novamente a Pilatos. O governador questionou o povo judeu, tentando fazê-los mudar de idéia, alegando não encontrar crime algum em Jesus (Conf. Lc 23,4. 14-15), também tentou libertá-lo, colocando-o lado a lado com um grande bandido da época (Conf Mt 27,17) achando que os judeus libertariam Jesus e condenariam Barrabás. Por fim, acabou lavando as mãos (Mt 27, 24) e deixou Cristo à mercê da vontade do povo judeu.


Procurei nas Sagradas Escrituras o personagem que melhor representasse a atual crise da Igreja, em especial da Igreja no Brasil e encontrei em Pôncio Pilatos o exemplo perfeito.

Muitos cristãos parecem seguir e imitar não Aquele que é o Caminho a Verdade e a Vida (Jo 14,6), mas aquele que, para agradar a multidão (Mc 15,15) teve a atitude patética de lavar as mãos (Mt 27,24), achando que com isso estaria, de fato, inocente do sangue do Homem.

A sentença de Pilatos foi proferida sob a pressão dos sacerdotes e da multidão, o pretor romano queria ficar inerte à situação (2), "sob a pressão pública Pilatos encarna então atitudes que parecem dominar nos nossos dias: a indiferença, o desinteresse, a conveniência pessoal. Para se viver serenamente, e por vantagem própria, não se hesita em esmagar a verdade e a justiça" (3).

Quantas vezes a sociedade se cala perante abusos que ameaçam nossa raiz cristã? Quantas vezes podemos ajudar de forma mais sólida alguém que sofre as consequências de uma vida no pecado e nos calamos? Quantas vezes, conscientemente, agimos contrariando nossa própria fé, lavando as mãos da aliança que selamos no batismo? Quantas e quantas vezes temos atitudes semelhantes à de Pilatos, lavamos nossas mãos e largamos a responsabilidade para o próximo?

Pilatos, sendo a autoridade civil responsável, poderia ter solto Jesus e no seu íntimo desejava vê-lo livre (Conf. Lc 23,20) mas, diante da pressão e do medo das represálias, tomou a atitude que hoje parece imperar, se acovardou diante das ameaças e deixou a responsabilidade a outrem.


Nossa Terra de Santa Cruz, colonizada por cristãos e catequisada pelos Jesuítas, hoje corre sérios riscos, diante de ameaças jamais vistas como a ditadura do politicamente correto, o avanço dos movimentos homossexuais, das marchas abortistas e das seitas relativistas e o que tem sido feito para tentar frear ou pelo menos amenizar esse perigo? Padres não falam de moral em suas homilias, bispos se calam diante de iniciativas desumanas como leis e projetos que tramitam no Congresso e os leigos, em sua maioria, continuam a ser cristãos no País das Maravilhas, bastando ir à Missa aos Domingos e viver sua vida "à deriva", como se nada acontecesse à sua volta.


"Para muitos, o cristianismo é uma atividade dominical, que às segundas-feiras, não mais lhes interessam."(Martin Luther King)


Hoje, vemos católicos vivendo um cristianismo ilusório, esquecendo dos grandes mártires do passado. Para a grande maioria, basta dizer da boca pra fora "sou cristão", rezar algumas orações, comprar uma camiseta temática com  estampa religiosa e participar de algumas atividades paroquiais que já está garantindo o seu"Certificado de Bom Cristão".


O pecado por omissão


"Confesso a Deus Pai Todo Poderoso, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e OMISSÕES..."

A fórmula acima, retirada do Confiteor, parece ser ignorada em partes, pois os pecados por omissão, frutos da preguiça e do egoísmo, parecem passar longe dos confessionários. Na grande maioria das vezes o "espírito de Pilatos" fala mais alto quase de forma automática,sempre é o próximo que tem a obrigação de solucionar os problemas e buscar melhorias na sociedade.

Diante deste "mundo da omissão", cabe aos católicos conscientes, antes de querer jogar a responsabilidade a outrem, fazer a sua parte e buscar amenizar ou impedir que o próximo peque ou falhe em suas obrigações.


Infelizmente, a sociedade "politicamente correta" tenta acabar com a caridade e com o amor entre as pessoas, incentivando que as mesmas vivam de forma egoísta, deixando à mercê dos governantes todas as formas de educação, cultura e caridade. Um exemplo dessa caricatura cívica é facilmente percebida quando as pessoas dizem para "cada um cuidar da sua vida" na mesma medida em que seguem todas as leis, na forma como o "governo quer cuidar da vida delas".


"As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interacções, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem." (4)

Cabe ao cristão, antes de temer estar se "intrometendo na vida alheia", corrigir e alertar ao próximo sobre os erros que o circulam, de forma caridosa, fraterna e sabendo distinguir o pecado e o pecador. A não ajuda ao próximo que está precisando, quando sabemos que podemos ajudar, caracteriza-se, na maioria das vezes, um reflexo da imagem covarde de Pôncio Pìlatos.


"Senhor Jesus Cristo, peço-lhe perdão por todas as vezes em que podia ajudar e não ajudei, podia vigiar e não vigiei. Peço lhe perdão por não ter orado como devia, por não interceder como devia, não comandar como devia e por não usar da autoridade como devia. Peço-lhe perdão por me calar quando devia falar e por falar quando devia me calar. Imploro sua infinita misericórdia por todas as minhas omissões. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém."